quinta-feira, 29 de março de 2012
Tribunal Popular da Terra coloca Estado, agronegócio e latifúndio no banco dos réus
29.03.12 - Brasil
Natasha Pitts
Jornalista da Adital
Adital
Nesta sexta-feira (30), sábado (31) e domingo (1º), Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul, receberá o Tribunal Popular da Terra, organizado por entidades da sociedade civil. Na ocasião, serão, simbolicamente, colocados no banco dos réus o Estado Brasileiro, o agronegócio e o latifúndio. O evento será realizado no campus da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e apresentará também em sua programação oficinas, mesas redondas e atividades culturais.
Durante o Tribunal, o Estado Brasileiro, o agronegócio e o latifúndio serão julgados pelas inúmeras violações de direitos humanos cometidas contra os povos indígenas, os quilombolas e os/as camponeses/as do Estado. O Tribunal Popular da Terra terá como eixo "povos da terra e estrutura fundiária no MS”.
Rafael de Abreu, 1º Diretor de Direitos Humanos da União Nacional dos Estudantes (UNE), explica que o Tribunal vai focar problemas graves do Estado, como os altos índices de assassinatos de indígenas. "Nos últimos oito anos, 250 indígenas foram assassinados no Estado, número que está acima da quantidade de crimes ocorridos em todo o Brasil, que foi de 202 assassinatos no mesmo período. Ano passado, este problema ganhou repercussão nacional com a morte do cacique Nísio Gomes”, disse.
Rafael destaca que será discutida uma série de pautas que reduzem os direitos dos povos da terra e acrescenta que o Tribunal Popular é uma oportunidade para juntar e articular os movimentos sociais do Mato Grosso do Sul a fim de que se tenha uma agenda comum de negociações e se possa lutar juntos pelos mesmos temas.
O TPT começa às 8h de amanhã com oficinas simultâneas sobre os temas: diálogos sobre a questão agrária: ações e impactos no MS; movimento Negro e as questões dos territórios quilombolas; a luta pela restituição territorial dos povos indígenas em MS; oficina musical "luta pela terra, pela vida - resistir é preciso; e agrotóxicos e seus impactos no Mato Grosso do Sul. As oficinas serão encerradas no mesmo dia com uma plenária que terá a apresentação da Banda ‘Humanos Vermelhos’.
Pela tarde, a programação tem início às 14h e reserva espaço para mesa redonda com os temas: ‘Estrutura fundiária e a questão agrária em MS’, com Miescelau Kudlavicz, da Comissão Pastoral da Terra do MS; ‘O golpe de 64 e seus impactos históricos e atuais na questão fundiária’, com a presença de Narciso Pires, presidente da ONG Tortura Nunca Mais; e ‘Como o coletivo se transforma em privado: o histórico papel do Estado na privatização das terras indígenas sul-mato-grossenses’, com Katya Vietta, doutora em Antropologia Social/Etnologia Indígena.
A abertura oficial do Tribunal acontecerá às 19h30, no auditório do Laboratório de Análises Clínicas (LAC) da UFMS. Mística de abertura com os jovens do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), espetáculo Tekohá "vida e morte do Deus Pequeno” e apresentações musicais com Humanos Vermelhos e o rap indígena de Dourados Brô Mcs estão entre as atividades da noite.
O Tribunal será instalado no sábado. No final do dia serão anunciadas as conclusões do Conselho Popular de Sentença. No domingo, os participantes farão uma plenária de avaliação do evento, o segundo realizado no Estado. O primeiro aconteceu em 1987 e trouxe à tona o problema da violência contra homens, mulheres e crianças envolvidas nas lutas pela reforma agrária e pela demarcação de terras indígenas.
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