Por que a Política Econômica ameaça a indústria brasileira
A permanência do Real valorizado e altas taxas de juros, durante anos, provocaram a desindustrialização e o aumento da dependência com o exterior Por Caio Zinet
O Brasil conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos de 2016, um clima de otimismo e euforia cerca o país. Esse clima, no entanto, esconde um processo que ocorre internamente desde pelo menos o início da década de 1990, a chamada desindustrialização.
Para o professor da Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS), Chisty Ganzert Pato, o que caracteriza esse processo é a diminuição do Valor Adicionado da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) e a diminuição da proporção de empregados no setor, frente aos demais. “Pode haver desindustrialização mesmo que as indústrias estejam crescendo, porque parte das indústrias cresce, mas num ritmo menor que o bolo geral da economia. Então mesmo com o crescimento, as indústrias estão empregando menos com relação ao que empregavam antes na proporção total e estão contribuindo menos para o bolo geral da economia. Essa definição é utilizada até mesmo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)”, afirmou Chisty.
Dessa forma, é possível haver desindustrialização mesmo com aumento na produção e no emprego industrial, como acontece, atualmente, no Brasil. Um dado que ilustra essa teoria é que mesmo com a indústria crescendo 10,1% em 2010, o Valor Adicionado da indústria de transformação no PIB foi de 15,8%, abaixo dos 32,1% registrados em 1986. Em 1947, quando o Brasil ainda ensaiava os primeiros passos de sua indústria, o Valor Adicionado do setor foi de 11%.
A indústria também apresenta queda na participação do emprego total. Estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que, em 1985, a indústria empregava 31,8% dos trabalhadores brasileiros, índice superior aos 24,4% do final de 2010.
A queda no número de vagas é seguida pela precarização das condições do trabalho, com aumento da flexibilização das relações trabalhistas. Estudo do Ministério do Trabalho, feito em parceria com o Dieese, aponta que o mercado de trabalho brasileiro é caracterizado pelo alto grau de flexibilização.
Em 2009, a taxa média de rotatividade no emprego industrial foi de 31,1%, enquanto que o tempo médio de permanência no emprego caiu de 5,5 anos em 2000, para 5 anos em 2009. No dia 8 de junho, cerca de 30 mil metalúrgicos fizeram uma passeata pela Rodovia Anchieta para denunciar o risco de desindustrialização e de perda de postos de trabalho no Brasil com o aumento da importação de veículos para o Brasil. O sindicato dos metalúrgicos do ABC estima que 130 mil postos de trabalho deixaram de ser gerados com o aumento das importações de veículos em 2010.
O setor de calçados, que emprega 370 mil trabalhadores com carteira assinada, é um dos mais afetados com a desindustrialização. A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Vestuário (CNTV) estima que 40 mil empregos deixaram de ser gerados no Brasil por conta do aumento de importações de calçados, principalmente os chineses.
Uma das maiores fábricas do Brasil, a Vulcabrás/ Azaleia, fechou uma unidade em Parobé, no Rio Grande do Sul, demitiu seus 800 trabalhadores, e abriu outra na Índia. A indústria têxtil é outro setor que sofre com o processo de desindustrialização. A participação do setor nas exportações das indústrias brasileiras caiu de 7,4% em 1996, para 2,7% em 2010, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Recentemente uma das maiores empresas do setor no país, a Mundial, anunciou a mudança de parte de sua planta para a China. A diminuição proporcional no número de empregos, e a alta taxa de rotatividade também pressionam os salários para baixo.
Os trabalhadores da construção civil são um exemplo disso. Estudo do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese) mostra que o rendimento médio do trabalhador no setor foi de 1,6 vezes o salário mínimo em 2007, enquanto que em 2002 a média era de 2,2. O estudo também mostra que os empresários do setor também têm repassado cada vez menos os lucros para os trabalhadores. Em 2002, a relação entre gasto com salários e faturamento das empresas era de 19,7% em 2002, índice que caiu para 17,5% em 2007
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