07.05.12 - Mundo
Natasha Pitts
Jornalista da Adital
Adital
Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Verão, que vão acontecer em Londres, Inglaterra, de 27 de julho a 12 de agosto, a Campanha global Jogo Limpo (Play Fair) se mobilizou para fiscalizar o trabalho de fábricas que produzem material esportivo do evento para marcas famosas. Por meio de um relatório lançado nesta segunda-feira (7), pesquisadores da campanha constataram que trabalhadores e trabalhadoras de várias partes do mundo estão recebendo salários de miséria, sendo forçados a fazer hora extra excessiva, impedidos de se organizar em sindicatos e ameaçados de demissão se reclamar das condições de trabalho.
Para realizar o relatório "Jogo Limpo? Direitos humanos dos trabalhadores das Olimpíadas 2012”, pesquisadores da Play Fair percorreram dez fábricas na China, Filipinas e Sri Lanka. Do total, oito produziam produtos para Londres 2012. As marcas envolvidas com as fábricas são Adidas, New Balance, The North Face, Columbia Sportswear Company, Next, Nike, Speedo e Ann Taylor. De outubro a dezembro de 2011 os pesquisadores conversaram com 175 trabalhadores/as sobre suas condições de atuação nas fábricas.
Na visita à China, os/as funcionários/as de uma fábrica na província de Guangdong, que produz artigos para Adidas, afirmaram que foram contratados para trabalhar em dois locais diferentes, sendo que eles estavam distantes cerca de 200 km. Também na fábrica Amerseas Enterprises, os/as trabalhadores/as denunciaram que são obrigados a fazer horas extras mais extensas que o mínimo permitido. Horários de trabalho que vão das 8h às 22h também não são incomuns.
Além disso, a organização de sindicatos é totalmente vetada em qualquer fábrica. Na China, o simples fato de conversar com colegas de trabalho sobre as péssimas condições a que estão submetidos pode ser um motivo para demissão imediata.
Neste mesmo país, os pesquisadores da Play Fair encontraram indícios de trabalho infantil, remunerações miseráveis e condições de trabalho perigosas em fábricas que produziam emblemas e mascotes para os Jogos Olímpicos de Verão deste ano.
Nas Filipinas, algumas das irregularidades encontradas são relacionadas aos salários. Os/as trabalhadores/as denunciaram que o pagamento é tão pouco que não chega ao fim do mês. Para sobreviver até o próximo salário, metade dos entrevistados disse penhorar o cartão bancário a agiotas para pagar empréstimos. Outra irregularidade detectada é que os/as trabalhadores/as filipinos das fábricas que produzem para Adidas são obrigados a fazer horas extras. A orientação parte dos próprios supervisores, que afirmam que hora extra é obrigatório.
"O dia normal de trabalho nas Filipinas é de 10 horas e, muitas vezes, ultrapassa 60 horas por semana durante os períodos de alta demanda, como durante o período de preparação para as Olimpíadas de Londres”, denuncia o relatório.
Para não pagar direitos trabalhistas, os pesquisadores da campanha descobriram que os/as filipinos/as são contratados para um prazo curto. Alguns são contratados como aprendizes, estagiários ou sob emprego probatório. Este é a realidade de 25% a 30% dos entrevistados no país.
Nas fábricas do Sri Lanka a situação não é melhor. Os trabalhadores recebem apenas 22-25% do salário mínimo de US$ 357 por mês. Alguns conseguem ganhar pouco mais da metade do salário mínimo. Outro problema foi encontrado na fábrica da marca "Next’. Após se deslocarem duas vezes no dia e completar um turno mais horas extras, os trabalhadores foram levados para outra fábrica, onde deveriam trabalhar até 2h30 da madrugada. No dia seguinte, o expediente deveria ser retomado às 8h.
Em Cantão, operadores de máquinas de costura não têm cadeiras, apenas bancos para trabalhar. A maioria das mulheres sofre de graves dores na coluna e pescoço. Os pesquisadores da Play Fair também encontraram trabalhadores de fábricas morando em dormitórios no local. Apesar dos baixos salários eles ainda precisam pagar pelo quarto, pela água, pela eletricidade e também pela comida.
Diante desses fatos, os organizadores e apoiadores da campanha Jogo Limpo estão pedindo ao Comitê Olímpico Internacional (COI) que melhore as condições de trabalho nas cadeias de abastecimento olímpicos até 2016, quando acontecerão as próximas olimpíadas, a serem realizadas no Rio de Janeiro (Brasil).
O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres (Locog) assegurou que será mais exigente com as fábricas nas suas diversas cadeias de abastecimento. Para concretizar esta promessa, uma das ações será criar uma linha telefônica a fim de que os trabalhadores possam denunciar irregularidades e maus tratos.
Sobre a campanha
A Campanha global Jogo Limpo (Play Fair) é coordenada pela Confederação Sindical Internacional (CSI), por federações sindicais internacionais e ONGs como a Clean Clothes Campaign (Campanha Roupas Limpas). A iniciativa nasceu em 2004, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Atenas com o objetivo de chamar atenção e combater as empresas que exploram a mão de obra barata, infantil e escrava.
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