domingo, 8 de abril de 2012
Geração de energia em Pernambuco
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Analisando o Balanço Energético de Pernambuco-BENPE (1998 foi o último
ano disponibilizado) e informações mais recentes, verifica-se que
apesar das fontes renováveis (hidreletricidade, carvão vegetal, lenha,
álcool e bagaço de cana) ainda contribuírem com a maior parcela na
oferta total de energia; estes energéticos vêm, ano a ano, reduzindo
sua contribuição. Por sua vez, as fontes não renováveis (derivados do
petróleo e gás natural), vêm aumentando sua participação, mostrando
assim que a prioridade ao longo dos últimos anos foi, e é de
incentivar os combustíveis “sujos” para atender a demanda energética
do Estado.
Não se pode continuar fingindo não saber que o uso de combustíveis
fósseis na geração elétrica e em outras atividades, constitui a
principal causa do aquecimento global. No mundo, é a cadeia produtiva
da energia, dependente fundamentalmente dos combustíveis fósseis, a
responsável por 70% das emissões do principal gás de efeito estufa
(GEE), o CO2.
Estudos mostram que se as previsões de instalação de termelétricas no
País, contidas no Plano Decenal de Expansão de Energia forem
cumpridas, promoverão um aumento de 172% nas emissões de GEE em
relação ao ano de 2008. E ai Pernambuco tem muito a contribuir.
No faraônico Complexo Industrial e Portuário de Suape está sendo
implementado um polo de termelétricas a combustíveis fósseis. Já estão
em funcionamento a UTE TermoPernambuco (grupo Neoenergia) no município
de Ipojuca, que possui uma potência instalada de 532 MW, consumindo 2
milhões de m3/dia de gás natural e liberando 5.000 ton/dia de CO2; a
UTE TermoCabo (grupo EBrasil) localizada no distrito industrial do
município do Cabo de Santo Agostinho, conectada ao Sistema Interligado
Nacional, com uma potência instalada de 50 MW, consumindo
aproximadamente 250 ton/dia de óleo combustível e emitindo 800 ton/dia
de CO2 (encontra-se no modo hot standby - pronta para operar), e a
termelétrica Suape II (grupo Bertin), localizada no Cabo de Santo
Agostinho, com 380 MW de potência instalada consumindo 2.000 ton/dia
de óleo combustível, com emissão diária de 6.000 toneladas de CO2,
quando em funcionamento. Já a termelétrica Suape III (grupo Bertin),
cujo protocolo de intenção foi assinado entre o empreendedor, e o
Governo do Estado em 13/09/2011, considerada a maior do mundo, terá
uma potência de 1.452 MW, e está planejada para operar com óleo
combustível, com consumo estimado de 8.000 ton/dia e emissão de 24.000
ton/dia de CO2 , com inicio de operação para 2013; e a termoelétrica
da Refinaria Abreu e Lima com óleo combustível, prevista com uma
potência de 200 MW e com um consumo em torno de 1.000 ton/dia de óleo
e emissão de 3.200 ton/dia de CO2. A potência total deste parque de
termelétricas será de 2.612 MW, e caso todas funcionem simultaneamente
serão emitidos, segundo nossas estimativas, aproximadamente por dia,
40.000 toneladas de CO2 para a atmosfera. Para o atendimento destas
usinas está prevista no acordo para construção de Suape III, uma
unidade de armazenamento de óleo combustível de 200.000 toneladas.
Consumir óleo combustível e gás natural nas termelétricas significa
devolver para a atmosfera, sob a forma de gases e particulados, uma
massa enorme de carbono, de compostos de enxofre e de óxidos de
nitrogênio, que foram retirados da Terra há milhões de anos. É uma
imensa quantidade de carbono e compostos químicos que serão jogados na
atmosfera, constituindo-se em uma agressão ao meio ambiente e
contribuindo com as mudanças climáticas, com consequências inevitáveis
a saúde das pessoas.
Além destas emissões, todo o receio de desastres com vazamentos e
derramamento de petróleo/derivados em Suape é plenamente justificável.
O alerta é necessário visto que, tais acidentes estão ocorrendo com
frequência assustadora no Brasil, e atingiriam ecossistemas marítimos,
colocando em xeque o futuro de comunidades costeiras que vivem da
pesca; além de afetar as atividades turísticas da região, já que a
menos de 10 km de Suape está localizado o balneário de Porto de
Galinhas e de outras lindas praias do Litoral Sul pernambucano.
Derramamentos e vazamentos de óleo afetariam drasticamente toda aquela
região.
Do lado da saúde pública estas termelétricas já contribuem e
contribuirão ainda mais para as emissões de gases extremamente
perigosos como os óxidos nitrosos, compostos de enxofre, monóxido e
dióxido de carbono (CO2) e metais pesados. Os atuais sistemas de
filtragem e monitoramento, muito embora eficazes reduzindo as
emissões, permitem que as quantidades destes produtos jogados na
atmosfera sejam suficientes para aumentar a probabilidade de ocorrer
doenças, particularmente as respiratórias, nas populações do entorno
de Suape. Quanto ao gás CO2 não existe nenhum sistema defiltragem
eficaz. Logo, é ou não é, para no mínimo, preocuparmos com que está
ocorrendo naquela região a menos de 50 km do Recife?
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