40 ANOS DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: ONTEM E HOJE
Publicado por Jblibanio em 06/6/2011 (362 leituras)40 ANOS DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: ONTEM E HOJE
J. B. Libanio
Contexto do nascimento da TdL
Ontem, na década de 70, a teologia da libertação (TdL) nascia. Cresceu e com enorme rapidez atingiu ampla repercussão em duas décadas. Permanece viva, sem a visibilidade midiática e propalada, penetrando meandros da Igreja. Ontem, via-se o sal da TdL na consistência clara e sólida. Hoje, percebemos a água teológica da America Latina salgada. Eis a ideia central da pergunta sobre o seu ontem e o hoje.
O ser humano não surge de repente. Anuncia-se durante nove meses. Os movimentos culturais geram-se em períodos mais longos e turbulentos. A Europa no pós-Vaticano II vivia momento teológico privilegiado. Rompera o gelo da neoescolástica e fluíam torrentes inovadoras na direção de inundar de vida setores sedentos de água pura. No centro da teologia europeia estavam as questões da modernidade. Elas se originavam de um sujeito inquieto com as perguntas da ciência a quebrar o imaginário tradicional, com a irrupção da subjetividade carregada das filosofias existencialistas, com a história a relativizar a rigidez das formulações dogmáticas e com o desejo de fazer-se presente ao mundo contemporâneo secularizado.
O mundo desenvolvido, embalado pelo milagre econômico, reinterpretava a Tradição e as tradições ( ) para dentro da euforia de fé pessoal e existencialmente vivida. O mundo da pobreza, dos países periféricos, do Sul permanecia lá distante com problemas diferentes. As camadas ilustradas alimentavam-se do mesmo pensar, mas as massas sofridas e oprimidas permaneciam alheias. Aí eclode a teologia da libertação.
Para refrescar a memória, lá estavam movimentos e fatores a provocar a irrupção teológica. A Conferência de Medellín representou, sem dúvida, o divisor de águas em relação à recepção do Concílio Vaticano II na América Latina. Dedicou-se a interpretar os sinais dos tempos no nosso Continente. Para responder a eles, fizeram-se as opções fundamentais pelos pobres e por uma Igreja simples e pobre, pela libertação, pelas Comunidades eclesiais de Base, pela educação conscientizadora no sentido politicocrítico, pela Igreja local, pela vida religiosa inserida, pela evangelização junto aos pobres. Praticamente se traçava o itinerário que a TdL percorreria nas décadas seguintes.
Rompia-se com o esquema sociopolítico desenvolvimentista, implantado desde a década de 50 nos países do Continente, para libertar-se dos países centrais em busca de modelo próprio. O termo libertação traduziu tal opção. E ele se amplia semanticamente para o campo da cultura e da teologia.
O ardor comprometido da juventude da JOC, mas sobretudo da JEC e JUC, não se contentou com evangelização do próprio meio em termos espirituais e marchou para crescente engajamento político de alcance nacional a ponto de ocupar a direção dos movimentos estudantis do país em perspectiva crítico-social até as raias do ímpeto revolucionário. No mundo rural, a educação libertadora, gestada pela pedagogia de Paulo Freire, trouxe frescor religioso, reinterpretando a religiosidade popular em linha de ruptura com o conformismo, acomodação e submissão em relação aos senhores do campo.
Explodiam movimentos revolucionários em luta contra os regimes militares, que se impuseram em vários países, num horizonte socialista, especialmente depois da consolidação do regime cubano, da presença da figura carismática de Che Guevara, Camilo Torres, e outros. Tempo de tensão política que repercutia no interior da Igreja e que fermentou o pensar rebelde. Resumindo: somaram-se três condições fundamentais para o nascer da TdL, a saber, clima sociopolítico libertador em face de terrível e diuturna opressão, a presença da parte significativa da Igreja nesse movimento e um grupo de intelectuais teólogos que pensaram tal embate.
Com o clima de abertura do Vaticano II, com a existência na Igreja católica e protestante de grupos comprometidos com a libertação dos pobres e com o trabalho intelectual de excelente grupo de teólogos, a TdL cresceu rapidamente e influenciou praticamente toda a teologia, inclusive europeia. Repercutiu ainda mais fortemente nos continentes africano e asiático. Surge então a Associação dos Teólogos da Libertação do III Mundo, que existe até hoje.
Em termos de produção no campo da teologia, consistente plêiade de escritores enriqueceu-a grandemente. Basta citar alguns nomes: Gustavo Gutiérrez, Leonardo e Clodovis Boff, Jon Sobrino, Hugo Assmann, Juan L. Segundo, José Comblin, Eduardo Hoornaert, Jung Mo Sung, Pedro Trigo, Ronaldo Muñoz, Francisco Taborda, Inácio Neutzling, Juan Carlos Scannone, Rubem Alves, Julio Santa Ana, Frei Betto, E. Dussel, J. M. Bonino e outros.
A força interior da TdL careceu de um instrumento para formular-se de maneira sistemática e ampla. Sob a coordenação principal de Leonardo Boff, Sérgio Torres, Ronaldo Muñoz, E. Hoornaert e Jon Sobrino, em março de 1982, teólogos dos diversos países da América Latina se reuniram, pela primeira vez, para dar andamento ao ousado projeto de publicação de uma série de tomos de Teologia na perspectiva da libertação. “Teologia e libertação”: assim se chamou tal projeto. Ele começou a ser publicado em 1985 e durou vários anos. Passou por inúmeras vicissitudes, desde intervenções eclesiásticas, impondo censura prévia aos manuscritos além da aprovação do Ordinário do lugar, até pressões sobre as editoras. A coleção não chegou a completar os 50 volumes planejados, mas atingiu a quota de 30 livros publicados. Praticamente está encerrada.
Já bem no final da mesma década de 80, outro projeto de envergadura entra em andamento. J. Sobrino e I. Ellacuría planejam um Dicionário Teológico da Libertação. A obra vem à luz no início da década de 90 sob o título de Mysterium Liberationis ( ).
Já em Puebla (1979), havia nítidos sinais de reação contra a TdL por parte da hierarquia eclesiástica católica de tal modo que o documento final da Conferência silenciou totalmente a existência dessa teologia no Continente quase como uma vitória contra poderoso grupo que desejava sua condenação. No entanto, o método de ver, julgar e agir impôs-se na redação do documento, a parte da análise da realidade e do agir revelaram a presença da TdL à revelia de bispos conservadores de muita influência. A parte teológica, porém, aproxima-se das posições conservadores e reflete pouco a TdL.
Os anos seguintes trouxeram muito sofrimento para os adeptos da TdL. A Congregação para a Doutrina da Fé emanou um documento condenando certos aspectos da TdL ( ). É verdade que os teólogos da libertação não se identificaram com os traços que o documento apresentava, sentindo-se então isentos de tal condenação. No entanto, setores conservadores da Igreja tomaram medidas restritivas a vários corifeus importantes, com condenações ao silêncio obsequioso ou à análise rigorosa de seus escritos.
Outro ponto de inflexão adveio no final da década de 80 com a queda do socialismo real. A TdL tinha esposado vários elementos da utopia socialista. Tal revés trouxe-lhes certa deslegitimação, especialmente no campo da publicidade.
As décadas seguintes caracterizaram-se por produção teológica bem diferenciada. Forte onda espiritualista e carismática alimenta bibliografia teológica correspondente. Os temas centrais das décadas anteriores continuam sendo recordados, já que a atual situação não trouxe nenhuma solução para os problemas dos pobres, antes lhe tem reforçado a miséria. Novos temas impõem-se por parte da teologia feminista, pela nova sensibilidade ecológica, pelas reivindicações étnicas, por uma nova antropologia em gestação, pelo novo contexto religioso, pelo domínio solitário do capitalismo neoliberal, pela presença do pluralismo religioso, pela onda cultural pós-moderna.
Pontos de consensos e consolidados
O método teológico da TdL tem consistência e continua. Em Santo Domingo, houve uma tentativa do episcopado latinoamericano, sob influência conservadora de setores eclesiais, de abandoná-lo. Mas já em Aparecida, voltou-se a ele, embora com menos clareza e contundência.
G. Gutiérrez teve a intuição inicial, ao distinguir três tipos de compreensão da teologia como sabedoria, saber racional e teórico e reflexão crítica da prática. A TdL se envereda por esse terceiro tipo ( ). Cl. Boff avança grande passo ao elaborar as bases realmente teóricas da TdL com sua tese doutoral em Lovaina ( ). Em esforço didático, houve vários livros que divulgaram o método. No centro da TdL está a práxis cristã no sentido de ação humana, alimentada por elementos da fé e da razão, para transformar a realidade social em vista da libertação dos pobres. Em termos concisos, a TdL se define por cinco preposições em relação a práxis cristã num contexto de opressão e libertação. Ela haure as perguntas a serem respondidas à luz da fé da práxis histórica libertadora. Suas respostas são para a práxis daqueles que estão envolvidos em tal processo a fim de que aí possam viver a fé cristã. Ela é feita por teólogos que, de certo maneira, estão na práxis. Ela se deixa criticar pela práxis na sua relevância e coerência. E, finalmente, ela se constroi motivada pela práxis.
Nessa sua relação com a práxis, a TdL se entende como teoria cristã da construção do Reino de Deus e não somente a teoria para conhecer a Deus. Tal compreensão possibilita a teologia ser formulada essencialmente como intellectus amoris. J. Sobrino desenvolve tal perspectiva, ao levar em consideração a situação conflituosa e violenta de El Salvador. Trata-se de fazer teologia como reação da misericórdia em face dos povos crucificados, concebendo assim a teologia formalmente como intellectus amori", tendo a opção pelos pobres como pré-compreensão da teologia e o mundo dos pobres como lugar primordial da teologia. A misericórdia reage adequada e necessariamente perante a realidade de pobreza e violência em que vivem os pobres, por isso que a teologia deve ser fundamentalmente um "intellectus amoris". Implica "uma determinada pré-compreensão subjetiva (a opção pelos pobres) e um determinado lugar objetivo (o mundo dos pobres)" ( ).
A TdL se faz na periferia do mundo, do Cristianismo e da Igreja, donde lhe vem a originalidade do método. Interpela a consciência mundial e eclesial a partir das maiorias pobres. A hierarquia católica acabou assumindo-lhe as intuições fundamentais. O referencial indiscutível dos oprimidos e marginalizados questionou também as outras teologias a respeito da própria relevância social e do alcance ético e espiritual. Recordou a toda a Igreja os valores do Evangelho dos pobres e da libertação.
O eixo principal que faz da TdL uma teologia universal e, de certo modo, definitiva, consiste em “fazer dos pobres e das vítimas um lugar teológico no qual se auscultam os sinais (dos tempos) e a partir do qual as fontes da teologia dão mais de si, e sobretudo facilitam descobrir a correlação transcendental entre Deus e pobres” ( ).
Alguns Temas principais
Jesus Cristo libertador
Toda teologia desenvolve predominantemente determinados temas. A TdL focou desde o início a figura histórica de Jesus como libertador. A cristologia ocupou-lhe principalmente a atenção. Ela pretendeu superar a imagem alienante de um Cristo que reconcilia os ricos com os pobres, sem pedir conversão dos primeiros. Questiona a miséria e a opressão como escândalo e contradição com o ser cristão ( ). Interpreta a pessoa, vida, práxis e pregação de Jesus a partir de sua identificação com os pobres (Mt 25, 31-46). A realidade do “Reino de Deus, o seguimento de Jesus ocupam lugar central nessa cristologia ( ). A TdL abre-se a horizontes maiores do Cristo cósmico, articulando a dimensão libertadora com a sensibilidade ecológica ( ).
Eclesiogênese e CEBs
A TdL deslocou o acento do polo tradicional hierarcológico e sacramental da comunhão para o popular comunitário. A perspectiva e a presença do pobre, pessoa e coletivo, erigem-se em critério crítico das estruturas internas da Igreja, forjadas nas concepções anteriores que o desconheciam. Defende-se uma eclesiogênese em que a Igreja nasce do povo pelo Espírito de Deus ( ). As comunidades eclesiais de base (CEBs) encarnam a Igreja dos pobres. A TdL estabelece dupla relação eclesial. Fundamenta-a teologicamente e se alimenta de suas experiências. A eclesialidade das CEBs funda-se nas características básicas de comunhão entre si e com os pastores, de testemunhar até o martírio, de serviço, de libertação, de protagonismo da Palavra de Deus na Escritura, de pluralidade, de vigor missionário, de ecumenismo na base pela presença de católicos e evangélicos numa mesma luta e compromisso.
Exegese militante
No campo da exegese a TdL desenvolveu método próprio. Distancia-se do fundamentalismo bíblico, ao assumir as descobertas científicas da exegese moderna. Articula-as com o contexto da comunidade de fé que lê o texto bíblico e com o pré-texto sociopolítico da mesma em busca de um sentido que leve os participantes a um compromisso social. A interpretação da Escritura e a experiência da comunidade eclesial garantem a verdade e autenticidade da fé. O olhar analítico sobre a realidade permite a encarnação do sentido da Escritura e a consequente prática daí decorrente ( ). A leitura popular – feita pelas e nas CEBs – e militante – articula-se com o compromisso social. Fé e vida, Palavra e práxis caminham juntas ( ). As comunidades elaboram pequenos relatos de suas vidas em confronto com a Palavra de Deus, antecipando a pós-modernidade na sua crítica às grandes narrativas. Elas reagem ao reducionismo espiritualista do cenário carismático, procurando interpretar o projeto salvador de Deus, a Palavra revelada para dentro de situação histórica concreta de opressão e de libertação. Espelham-se na experiência libertária do Povo de Deus e da mensagem de Jesus. O vigor da Palavra revelada defende-as de leitura reducionista materialista ou meramente sociopolítica.
Igreja e Reino de Deus
A categoria de Reino de Deus acompanha a eclesiologia da TdL desde seus inícios, inspirada no Concílio Vaticano II. Entendida a partir dos pobres cumpre papel crítico em relação à Igreja. A Igreja não se identifica com o Reino de Deus, antes este se lhe torna instância crítica. Ela cumpre a função de ser-lhe sinal. Os sinais, que Jesus aponta da presença do Reino, fundamentam as propostas da TdL em relação aos pobres, famintos e sofredores (Lc 6, 20-21). Realidade central no tempo de Jesus exprimia os sonhos, as utopias, a esperança do povo de Israel. Ao assumir tal categoria, a TdL o interpretou especialmente como boa-nova para os pobres com a vantagem de unir num mesmo universo semântico a história (Reino) e a transcendência (de Deus), permitindo síntese entre ambas. Superam-se os dualismos e oferece-se verificação na história do dinamismo transcendente que impele a Igreja na luta pela libertação dos pobres e oprimidos. Aparece aí a profunda unidade entre Deus e a história humana, de que a Igreja se faz sinal e sacramento. A TdL, enquanto teologia fala de Deus; enquanto libertação, do Reino. Este implica a exigência fundamental da justiça. Revela o poder de Deus a atuar salvificamente na história especialmente em relação aos pobres, os prediletos de Deus. Jesus, mediador absoluto e definitivo do Reino, lhe anuncia a presença, pede conversão de todos, qualifica-o como anúncio aos pobres, seus principais destinatários. A Igreja espelha-se nele e afasta-se dele toda vez que se esquece dos pobres.
Novos temas
Novos ministérios
A prática da Igreja está a pedir profunda revisão dos ministérios, tarefa já desejada por Paulo VI ( ). A TdL estudou a realidade concreta, empírica dos ministérios não-ordenados na Igreja latino-americana, quer através de sua descrição e análise ( ), quer à base dos documentos emanados de instâncias eclesiásticas de nosso Continente ( ), quer por meio de um aprofundamento teológico. Aprofundam-se as iniciativas da CNBB, especialmente a respeito da presença e participação do leigo no mundo e na Igreja ( ).
A teologia do Espírito Santo
A TdL, desde os primórdios, trabalhou a teologia do Espírito Santo. Visava a compreendê-la no sentido de superar leitura demasiado fundamentalista e literalista do Jesus histórico. Evitou também o extremo oposto de uma espiritualização divinizante de Jesus a ponto de esquecer-lhe a mordência humana e sua força questionadora a pedir a conversão de vida. Além disso, retomou a questão da relação instituição e carisma referente à dimensão jurídica da Igreja. A presença do carisma pela ação do Espírito Santo corrige o risco do juridicismo eclesiástico.
L. Boff relaciona a eclesiologia com a pneumatologia, considerando a Igreja como sacramento do Espírito Santo. Interpreta o carisma como seu princípio de organização ( ). Tal reflexão se faz hoje ainda mais importante em face de certa exacerbação institucional ( ). Na questão da teologia do Espírito Santo, a TdL defronta-se com situação paradoxal. De um lado, a percepção da necessidade de avançar a reflexão nesse campo, de outro, a constatação de que está em curso um deslocamento da pneumatologia para o terreno dos movimentos de espiritualidade e apostolado em perspectiva carismático-afetiva e não transformadora das estruturas eclesiásticas e sociais.
Procura, por isso, superar o aprisionamento da presença do Espírito Santo ao reduto da intimidade individual ou de grupos carismáticos ( ) e estudá-la na sua atuação na Igreja e na história humana. Na esteira de Puebla refere-se à ação do Espírito Santo em relação à renovação dos homens e consequentemente da sociedade, das leis e das estruturas e ao despertar do anseio de salvação libertadora no coração de nossos povos ( ).
A presença do Espírito mostra-se mais fortemente na consciência e ação dos pobres, sobretudo na experiência da descoberta da Palavra de Deus pelo povo. Já não mais como simples destinatário e objeto das interpretações do clero e das elites, mas como sujeito próprio de interpretação sobretudo nos círculos bíblicos, alimentados por enorme literatura bíblica popular e na criação de comunidades de base e de vida cristã. Finalmente, o Espírito alimenta a luta pela vida ( ). J. Comblin faz leitura da história à luz da ação do Espírito até os atuais desafios, apontando como critério de discernimento a opção pelos pobres ( ).
A TdL em face da pós-modernidade
A pós-modernidade traz desafios à TdL. Antes de tudo, a vitória do neoliberalismo no mundo econômico e a afirmação da cultura extremamente subjetivista, hedonista, fragmentada pós-moderna pedem que se considerem os conflitos da realidade para além do simples antagonismo das classes. Surgem movimentos sociais de amplitude mundial de caráter transclassista, transcultural, transétnico, transexual, transreligioso, de gênero que configuram novo quadro sócio-político, econômico, cultural e religioso. Deslocam-se as preocupações para o eclodir de problemas culturais e religiosos, em íntima relação com as estruturas da sociedade.
O Deus da vida ocupa espaço importante na TdL ( ). A vida vê-se ainda mais ameaçada pelo atual sistema neoliberal e pela sociedade do conhecimento que exclui os pobres do acesso ao conhecimento e portanto, da própria subsistência. Mais grave tornou-se-lhes a situação de modo que a TdL se faz ainda mais necessária. Joga-se o futuro dos pobres, pessoas, nações ou continente, no campo do acesso ao conhecimento. Tema novo a ser aprofundado no meio do colossal desenvolvimento da informática.
Trava-se a batalha entre a cultura de morte e a cultura da vida. Puebla já agitara tal problemática ( ), cuja gravidade aparece claramente nos dias de hoje. A TdL preocupa-se com a temática da cultura na sua diversidade: dos negros ( ) e dos índios ( ). Inseriu-se também na corrente teológica, especialmente vinda da Índia e África, desenvolvendo a temática da inculturação ( ) e do diálogo inter-religioso ( ). Já não se aceita a identificação simplista entre fé cristã e cultura ocidental. O futuro aposta na expressão da fé cristã em outras culturas.
Virada cosmogênica
O novo paradigma ecológico influenciou a TdL. A pergunta fundamental nesse paradigma não se prende à fé cristã, mas se estende ao futuro da Terra e de toda a humanidade. A fé cristã em todas as suas expressões juntamente com as outras religiões, se fazem co-responsáveis para manter viva a presença do Mistério sagrado no coração do universo, da história e do ser humano.
Surge-lhe o desafio da “ecologia profunda” e da espiritualidade cósmica. A Terra aparece como o novo pobre e o maior de todos, pelo tamanho e pelas terríveis consequências de sua morte para toda a humanidade. Doente, ela grita. Grito a ser articulado com o grito de todos os outros pobres da terra ( ).
Discute-se sobre o novo paradigma ecológico ( ) que atinge as próprias concepções cosmológicas, antropológicas em curso no Ocidente, não sem influência do Oriente. A TdL tem procurado articulá-lo com os reclamos de libertação dos pobres e excluídos para que não se imponha mentalidade ecológica e religiosa alheia ao mundo dos marginalizados e deserdados da história, prolongando-lhes, então, a situação de opressão. L. Boff defende a tese da imbricação profunda da libertação e ecologia. Propõe a articulação dos discursos da libertação e ecológico como ponte entre Sul e Norte ( ).
O surgimento de tal paradigma se deve a conhecimentos científicos da nova física quântica, a teoria da relatividade, do princípio de indeterminação de Heisenberg de um lado e, de outro, do imperativo prático da devastação da natureza pelo processo desenvolvimentista em curso no Ocidente. Aprendemos da ciência e da urgência dos problemas ecológicos, pensar o universo como uma complexa rede de relações em todas as direções e de todas as formas e como “tudo está relacionado com tudo em todos os pontos e em todos os momentos. Vigora uma radical interdependência dos sistemas vivos e aparentemente não vivos. Funda-se assim a comunidade cósmica e a comunidade planetária” ( ).
Tal cosmologia gera nova antropologia. O ser humano já não se entende como o Prometeu dominador do criado, mas como um membro dessa gigantesca comunidade do universo. O ser humano liga-se, por origem, a todo o universo pelo processo de complexificação e centração, como Teilhard de Chardin formulou ( ). Essa comunhão cósmica faz do ser humano alguém mais solidário, responsável e humilde. Surge nova consciência ética em relação a todo o cosmos.
Da ética se passa à mística e espiritualidade cósmica, passível de interpretação monista, como o faz a Nova Era ( ) ou libertadora ( ). A perspectiva monista reforça-se com a mística psicológica à base da psicologia transpessoal. Nela se acentua a identidade entre o “eu e o divino”. Espiritualidade sem Transcendência, centrada no eu e em busca de encontro com o divino aí presente. Responde à busca de consolo por parte das pessoas afligidas por tantos lados.
A mística dialógica e libertadora interpela a mística cósmica de corte panteísta e monista. O encontro com nós mesmos - mística psicológica - e a harmonia com o universo - mística cósmica - defronta-se com a “desarmonia escandalosa” do pobre e excluído socialmente. Ele cumpre mais uma vez a função de discernimento diante dessas místicas, desocultando-lhes as consequências antropológicas e sociais.
Certa mística, que suprime a liberdade pessoal e a responsabilidade histórica, deixando as estruturas sociais e injustas intocadas, termina numa paz e harmonia alheia à presença do outro e no fundo de um Deus pessoal. Tal espiritualidade assenta bem com o neoliberalismo atual. A TdL a questiona ao contrapor-lhe a presença do Outro – Deus e pobre.
A mística cristã da libertação reconhece a importância da descoberta da harmonia pessoal e com o universo. Comunga com o novo paradigma emergente. Percebe que certo militantismo combativo descuidou dimensões humanas e religiosas. No entanto, alerta para o fato de que tal harmonia não se construa à custa da própria liberdade e responsabilidade pela história. Dialoga evangelizadoramente com esse novo movimento eco-místico, não o considerando luxo dos países ricos do 1º Mundo, como se julgou em dado momento, mas como causa nobre e maravilhosa, desde que se insira nele a dinâmica da libertação dos pobres. A riqueza esbanjadora e a pobreza degradante poluem, destroem a natureza e geram desarmonia interior. A harmonia cósmica pede sobriedade dos ricos e melhor condição de vida dos pobres, evitando assim a contaminação da natureza e as rupturas interiores. A TdL traz como proposta a teologia da solidariedade, o novo nome da TdL para a harmonia. Só há harmonia interior e exterior, se os seres humanos construírem sociedade solidária. Do contrário, a violência, a droga, a indústria armamentista, a poluição dos países ricos perdulários ameaçarão o futuro dos pobres a curto prazo e o da humanidade a longo.
Virada de gênero
No começo a TdL sofreu do patriarcalismo, do machismo, sem sensibilidade para a beleza e a força do movimento feminista, tanto no campo sociocultural, antropológico quanto teológico.
As teólogas da libertação abriram o próprio caminho. Aproveitaram a maior afinidade com setor muito caro à piedade latinoamericana: a devoção a Maria. Nesse sentido, desenvolveram uma mariologia desde a ótica de mulher ( ). Além disso, enfrentaram o significado metodológico da teologia feminina, rompendo silêncio secular ( ) e marcando presença relevante na linha da libertação da mulher, sobretudo a pobre e oprimida ( ). Abordaram o tema do corpo, delicado e tabu na teologia ( ). Reivindicaram maneira própria de aproximar-se do mistério de Deus ( ), valorizando as dimensões sapiencial, simbólica, celebrativa, espiritual, poética. Produziram uma teologia em “mutirão” ( ).
CONCLUSÃO
Da abundante TdL escolhemos alguns pontos, muitos ficaram de fora. A TdL está a sofrer mais do silêncio do que das pressões eclesiáticas e ideológicas do mundo neoliberal. Prefere-se não falar dela.
No entanto, os problemas que ela enfrentou desde o nascimento conservam a gravidade e até se tornaram piores. Sua missão continua ainda importante como esperança dos pobres e como vertente libertadora da fé cristã.
A TdL sofrera, em décadas anteriores, pressão vinda do mundo social político conservador e de instâncias institucionais da Igreja. Hoje a situação mudou. No mundo social, a convicção de que não há alternativa válida ao sistema de mercado sob a forma neoliberal gerou segurança tal que as vozes adversas são consideradas como entulhos do passado sem relevância.
As preocupações eclesiásticas, tanto no referente à doutrina quanto à prática pastoral, vão noutra direção. Teologicamente, a temática do diálogo inter-religioso preocupa doutrinalmente as instâncias romanas. A ameaça vem antes da Índia que está a elaborar teologia original em que se pensa a tradição cristã no horizonte de suas tradições religiosas antigas.
No mundo pastoral, a difusão e o crescimento das igrejas pentecostais e neopentecostais apavoram a hierarquia e aí ela concentra as energias. As estatísticas de países tradicionais, como o Brasil, assinalam verdadeira sangria do catolicismo para as outras igrejas em fluxo contínuo. Como estancá-la? Que rosto de Igreja mostrar que se torne atraente para os que a abandonaram? O Documento de Aparecida focaliza como primeiro destinatário do projeto evangelizador aqueles que deixaram a Igreja católica. Nesse contexto, a TdL e a pastoral da libertação saíram de foco, para bem e para mal.
Para bem, porque ela pode prosseguir o trabalho sem tantas críticas e cerceamentos eclesiásticos e disciplinares. E ela continua o trabalho em ambos os níveis, teórico e prático. Para mal, porque se defronta com desinteresse crescente e com a desistência por parte de muitos dos antigos protagonistas políticos e eclesiásticos.
No entanto, o mundo dos pobres continua crescendo e a situação torna-se pior. E eles permanecem sendo pergunta teológica à fé cristã ( ). A incerteza deles aumenta. Cresce a exclusão. Por isso, a preocupação por eles continua sendo tônica da teologia e, neste sentido, esta é-lhes réstia de esperança além de perceber aí maior responsabilidade social e histórica. Ser apelo de conversão a todos é sua vocação missionária. Ser reflexão séria, coerente e regrada, é sua tarefa intelectual. Estar aberta a sempre novas reformulações, autocríticas, aperfeiçoamentos, é sua possibilidade de futuro.
A TdL ressente ainda do pouco tempo de existência e da falta de sério confronto crítico interno. Neste sentido, talvez grande parte ainda esteja por ser escrita. O seu futuro interliga-se profundamente ao destino de vida dos pobres no processo histórico vigente. Em outras palavras, ela só terá futuro, se, nas próximas décadas, a perspectiva a partir do reverso da história e a força histórica dos pobres ainda tiverem valor e forem pensáveis.
Perguntas
1. Na sua intelecção quais são os pontos nodais da Teologia da libertação?
2. Para sua vivência pessoal e comunitária que aspectos da Teologia da libertação tiveram e ainda têm importância?
3. Que ações pastorais a Teologia da Libertação provocou e está a provocar?
Artigo publicado na Revista Convergência: 46 (2011), n. 438, p. 27-42
J. B. Libanio
Contexto do nascimento da TdL
Ontem, na década de 70, a teologia da libertação (TdL) nascia. Cresceu e com enorme rapidez atingiu ampla repercussão em duas décadas. Permanece viva, sem a visibilidade midiática e propalada, penetrando meandros da Igreja. Ontem, via-se o sal da TdL na consistência clara e sólida. Hoje, percebemos a água teológica da America Latina salgada. Eis a ideia central da pergunta sobre o seu ontem e o hoje.
O ser humano não surge de repente. Anuncia-se durante nove meses. Os movimentos culturais geram-se em períodos mais longos e turbulentos. A Europa no pós-Vaticano II vivia momento teológico privilegiado. Rompera o gelo da neoescolástica e fluíam torrentes inovadoras na direção de inundar de vida setores sedentos de água pura. No centro da teologia europeia estavam as questões da modernidade. Elas se originavam de um sujeito inquieto com as perguntas da ciência a quebrar o imaginário tradicional, com a irrupção da subjetividade carregada das filosofias existencialistas, com a história a relativizar a rigidez das formulações dogmáticas e com o desejo de fazer-se presente ao mundo contemporâneo secularizado.
O mundo desenvolvido, embalado pelo milagre econômico, reinterpretava a Tradição e as tradições ( ) para dentro da euforia de fé pessoal e existencialmente vivida. O mundo da pobreza, dos países periféricos, do Sul permanecia lá distante com problemas diferentes. As camadas ilustradas alimentavam-se do mesmo pensar, mas as massas sofridas e oprimidas permaneciam alheias. Aí eclode a teologia da libertação.
Para refrescar a memória, lá estavam movimentos e fatores a provocar a irrupção teológica. A Conferência de Medellín representou, sem dúvida, o divisor de águas em relação à recepção do Concílio Vaticano II na América Latina. Dedicou-se a interpretar os sinais dos tempos no nosso Continente. Para responder a eles, fizeram-se as opções fundamentais pelos pobres e por uma Igreja simples e pobre, pela libertação, pelas Comunidades eclesiais de Base, pela educação conscientizadora no sentido politicocrítico, pela Igreja local, pela vida religiosa inserida, pela evangelização junto aos pobres. Praticamente se traçava o itinerário que a TdL percorreria nas décadas seguintes.
Rompia-se com o esquema sociopolítico desenvolvimentista, implantado desde a década de 50 nos países do Continente, para libertar-se dos países centrais em busca de modelo próprio. O termo libertação traduziu tal opção. E ele se amplia semanticamente para o campo da cultura e da teologia.
O ardor comprometido da juventude da JOC, mas sobretudo da JEC e JUC, não se contentou com evangelização do próprio meio em termos espirituais e marchou para crescente engajamento político de alcance nacional a ponto de ocupar a direção dos movimentos estudantis do país em perspectiva crítico-social até as raias do ímpeto revolucionário. No mundo rural, a educação libertadora, gestada pela pedagogia de Paulo Freire, trouxe frescor religioso, reinterpretando a religiosidade popular em linha de ruptura com o conformismo, acomodação e submissão em relação aos senhores do campo.
Explodiam movimentos revolucionários em luta contra os regimes militares, que se impuseram em vários países, num horizonte socialista, especialmente depois da consolidação do regime cubano, da presença da figura carismática de Che Guevara, Camilo Torres, e outros. Tempo de tensão política que repercutia no interior da Igreja e que fermentou o pensar rebelde. Resumindo: somaram-se três condições fundamentais para o nascer da TdL, a saber, clima sociopolítico libertador em face de terrível e diuturna opressão, a presença da parte significativa da Igreja nesse movimento e um grupo de intelectuais teólogos que pensaram tal embate.
Com o clima de abertura do Vaticano II, com a existência na Igreja católica e protestante de grupos comprometidos com a libertação dos pobres e com o trabalho intelectual de excelente grupo de teólogos, a TdL cresceu rapidamente e influenciou praticamente toda a teologia, inclusive europeia. Repercutiu ainda mais fortemente nos continentes africano e asiático. Surge então a Associação dos Teólogos da Libertação do III Mundo, que existe até hoje.
Em termos de produção no campo da teologia, consistente plêiade de escritores enriqueceu-a grandemente. Basta citar alguns nomes: Gustavo Gutiérrez, Leonardo e Clodovis Boff, Jon Sobrino, Hugo Assmann, Juan L. Segundo, José Comblin, Eduardo Hoornaert, Jung Mo Sung, Pedro Trigo, Ronaldo Muñoz, Francisco Taborda, Inácio Neutzling, Juan Carlos Scannone, Rubem Alves, Julio Santa Ana, Frei Betto, E. Dussel, J. M. Bonino e outros.
A força interior da TdL careceu de um instrumento para formular-se de maneira sistemática e ampla. Sob a coordenação principal de Leonardo Boff, Sérgio Torres, Ronaldo Muñoz, E. Hoornaert e Jon Sobrino, em março de 1982, teólogos dos diversos países da América Latina se reuniram, pela primeira vez, para dar andamento ao ousado projeto de publicação de uma série de tomos de Teologia na perspectiva da libertação. “Teologia e libertação”: assim se chamou tal projeto. Ele começou a ser publicado em 1985 e durou vários anos. Passou por inúmeras vicissitudes, desde intervenções eclesiásticas, impondo censura prévia aos manuscritos além da aprovação do Ordinário do lugar, até pressões sobre as editoras. A coleção não chegou a completar os 50 volumes planejados, mas atingiu a quota de 30 livros publicados. Praticamente está encerrada.
Já bem no final da mesma década de 80, outro projeto de envergadura entra em andamento. J. Sobrino e I. Ellacuría planejam um Dicionário Teológico da Libertação. A obra vem à luz no início da década de 90 sob o título de Mysterium Liberationis ( ).
Já em Puebla (1979), havia nítidos sinais de reação contra a TdL por parte da hierarquia eclesiástica católica de tal modo que o documento final da Conferência silenciou totalmente a existência dessa teologia no Continente quase como uma vitória contra poderoso grupo que desejava sua condenação. No entanto, o método de ver, julgar e agir impôs-se na redação do documento, a parte da análise da realidade e do agir revelaram a presença da TdL à revelia de bispos conservadores de muita influência. A parte teológica, porém, aproxima-se das posições conservadores e reflete pouco a TdL.
Os anos seguintes trouxeram muito sofrimento para os adeptos da TdL. A Congregação para a Doutrina da Fé emanou um documento condenando certos aspectos da TdL ( ). É verdade que os teólogos da libertação não se identificaram com os traços que o documento apresentava, sentindo-se então isentos de tal condenação. No entanto, setores conservadores da Igreja tomaram medidas restritivas a vários corifeus importantes, com condenações ao silêncio obsequioso ou à análise rigorosa de seus escritos.
Outro ponto de inflexão adveio no final da década de 80 com a queda do socialismo real. A TdL tinha esposado vários elementos da utopia socialista. Tal revés trouxe-lhes certa deslegitimação, especialmente no campo da publicidade.
As décadas seguintes caracterizaram-se por produção teológica bem diferenciada. Forte onda espiritualista e carismática alimenta bibliografia teológica correspondente. Os temas centrais das décadas anteriores continuam sendo recordados, já que a atual situação não trouxe nenhuma solução para os problemas dos pobres, antes lhe tem reforçado a miséria. Novos temas impõem-se por parte da teologia feminista, pela nova sensibilidade ecológica, pelas reivindicações étnicas, por uma nova antropologia em gestação, pelo novo contexto religioso, pelo domínio solitário do capitalismo neoliberal, pela presença do pluralismo religioso, pela onda cultural pós-moderna.
Pontos de consensos e consolidados
O método teológico da TdL tem consistência e continua. Em Santo Domingo, houve uma tentativa do episcopado latinoamericano, sob influência conservadora de setores eclesiais, de abandoná-lo. Mas já em Aparecida, voltou-se a ele, embora com menos clareza e contundência.
G. Gutiérrez teve a intuição inicial, ao distinguir três tipos de compreensão da teologia como sabedoria, saber racional e teórico e reflexão crítica da prática. A TdL se envereda por esse terceiro tipo ( ). Cl. Boff avança grande passo ao elaborar as bases realmente teóricas da TdL com sua tese doutoral em Lovaina ( ). Em esforço didático, houve vários livros que divulgaram o método. No centro da TdL está a práxis cristã no sentido de ação humana, alimentada por elementos da fé e da razão, para transformar a realidade social em vista da libertação dos pobres. Em termos concisos, a TdL se define por cinco preposições em relação a práxis cristã num contexto de opressão e libertação. Ela haure as perguntas a serem respondidas à luz da fé da práxis histórica libertadora. Suas respostas são para a práxis daqueles que estão envolvidos em tal processo a fim de que aí possam viver a fé cristã. Ela é feita por teólogos que, de certo maneira, estão na práxis. Ela se deixa criticar pela práxis na sua relevância e coerência. E, finalmente, ela se constroi motivada pela práxis.
Nessa sua relação com a práxis, a TdL se entende como teoria cristã da construção do Reino de Deus e não somente a teoria para conhecer a Deus. Tal compreensão possibilita a teologia ser formulada essencialmente como intellectus amoris. J. Sobrino desenvolve tal perspectiva, ao levar em consideração a situação conflituosa e violenta de El Salvador. Trata-se de fazer teologia como reação da misericórdia em face dos povos crucificados, concebendo assim a teologia formalmente como intellectus amori", tendo a opção pelos pobres como pré-compreensão da teologia e o mundo dos pobres como lugar primordial da teologia. A misericórdia reage adequada e necessariamente perante a realidade de pobreza e violência em que vivem os pobres, por isso que a teologia deve ser fundamentalmente um "intellectus amoris". Implica "uma determinada pré-compreensão subjetiva (a opção pelos pobres) e um determinado lugar objetivo (o mundo dos pobres)" ( ).
A TdL se faz na periferia do mundo, do Cristianismo e da Igreja, donde lhe vem a originalidade do método. Interpela a consciência mundial e eclesial a partir das maiorias pobres. A hierarquia católica acabou assumindo-lhe as intuições fundamentais. O referencial indiscutível dos oprimidos e marginalizados questionou também as outras teologias a respeito da própria relevância social e do alcance ético e espiritual. Recordou a toda a Igreja os valores do Evangelho dos pobres e da libertação.
O eixo principal que faz da TdL uma teologia universal e, de certo modo, definitiva, consiste em “fazer dos pobres e das vítimas um lugar teológico no qual se auscultam os sinais (dos tempos) e a partir do qual as fontes da teologia dão mais de si, e sobretudo facilitam descobrir a correlação transcendental entre Deus e pobres” ( ).
Alguns Temas principais
Jesus Cristo libertador
Toda teologia desenvolve predominantemente determinados temas. A TdL focou desde o início a figura histórica de Jesus como libertador. A cristologia ocupou-lhe principalmente a atenção. Ela pretendeu superar a imagem alienante de um Cristo que reconcilia os ricos com os pobres, sem pedir conversão dos primeiros. Questiona a miséria e a opressão como escândalo e contradição com o ser cristão ( ). Interpreta a pessoa, vida, práxis e pregação de Jesus a partir de sua identificação com os pobres (Mt 25, 31-46). A realidade do “Reino de Deus, o seguimento de Jesus ocupam lugar central nessa cristologia ( ). A TdL abre-se a horizontes maiores do Cristo cósmico, articulando a dimensão libertadora com a sensibilidade ecológica ( ).
Eclesiogênese e CEBs
A TdL deslocou o acento do polo tradicional hierarcológico e sacramental da comunhão para o popular comunitário. A perspectiva e a presença do pobre, pessoa e coletivo, erigem-se em critério crítico das estruturas internas da Igreja, forjadas nas concepções anteriores que o desconheciam. Defende-se uma eclesiogênese em que a Igreja nasce do povo pelo Espírito de Deus ( ). As comunidades eclesiais de base (CEBs) encarnam a Igreja dos pobres. A TdL estabelece dupla relação eclesial. Fundamenta-a teologicamente e se alimenta de suas experiências. A eclesialidade das CEBs funda-se nas características básicas de comunhão entre si e com os pastores, de testemunhar até o martírio, de serviço, de libertação, de protagonismo da Palavra de Deus na Escritura, de pluralidade, de vigor missionário, de ecumenismo na base pela presença de católicos e evangélicos numa mesma luta e compromisso.
Exegese militante
No campo da exegese a TdL desenvolveu método próprio. Distancia-se do fundamentalismo bíblico, ao assumir as descobertas científicas da exegese moderna. Articula-as com o contexto da comunidade de fé que lê o texto bíblico e com o pré-texto sociopolítico da mesma em busca de um sentido que leve os participantes a um compromisso social. A interpretação da Escritura e a experiência da comunidade eclesial garantem a verdade e autenticidade da fé. O olhar analítico sobre a realidade permite a encarnação do sentido da Escritura e a consequente prática daí decorrente ( ). A leitura popular – feita pelas e nas CEBs – e militante – articula-se com o compromisso social. Fé e vida, Palavra e práxis caminham juntas ( ). As comunidades elaboram pequenos relatos de suas vidas em confronto com a Palavra de Deus, antecipando a pós-modernidade na sua crítica às grandes narrativas. Elas reagem ao reducionismo espiritualista do cenário carismático, procurando interpretar o projeto salvador de Deus, a Palavra revelada para dentro de situação histórica concreta de opressão e de libertação. Espelham-se na experiência libertária do Povo de Deus e da mensagem de Jesus. O vigor da Palavra revelada defende-as de leitura reducionista materialista ou meramente sociopolítica.
Igreja e Reino de Deus
A categoria de Reino de Deus acompanha a eclesiologia da TdL desde seus inícios, inspirada no Concílio Vaticano II. Entendida a partir dos pobres cumpre papel crítico em relação à Igreja. A Igreja não se identifica com o Reino de Deus, antes este se lhe torna instância crítica. Ela cumpre a função de ser-lhe sinal. Os sinais, que Jesus aponta da presença do Reino, fundamentam as propostas da TdL em relação aos pobres, famintos e sofredores (Lc 6, 20-21). Realidade central no tempo de Jesus exprimia os sonhos, as utopias, a esperança do povo de Israel. Ao assumir tal categoria, a TdL o interpretou especialmente como boa-nova para os pobres com a vantagem de unir num mesmo universo semântico a história (Reino) e a transcendência (de Deus), permitindo síntese entre ambas. Superam-se os dualismos e oferece-se verificação na história do dinamismo transcendente que impele a Igreja na luta pela libertação dos pobres e oprimidos. Aparece aí a profunda unidade entre Deus e a história humana, de que a Igreja se faz sinal e sacramento. A TdL, enquanto teologia fala de Deus; enquanto libertação, do Reino. Este implica a exigência fundamental da justiça. Revela o poder de Deus a atuar salvificamente na história especialmente em relação aos pobres, os prediletos de Deus. Jesus, mediador absoluto e definitivo do Reino, lhe anuncia a presença, pede conversão de todos, qualifica-o como anúncio aos pobres, seus principais destinatários. A Igreja espelha-se nele e afasta-se dele toda vez que se esquece dos pobres.
Novos temas
Novos ministérios
A prática da Igreja está a pedir profunda revisão dos ministérios, tarefa já desejada por Paulo VI ( ). A TdL estudou a realidade concreta, empírica dos ministérios não-ordenados na Igreja latino-americana, quer através de sua descrição e análise ( ), quer à base dos documentos emanados de instâncias eclesiásticas de nosso Continente ( ), quer por meio de um aprofundamento teológico. Aprofundam-se as iniciativas da CNBB, especialmente a respeito da presença e participação do leigo no mundo e na Igreja ( ).
A teologia do Espírito Santo
A TdL, desde os primórdios, trabalhou a teologia do Espírito Santo. Visava a compreendê-la no sentido de superar leitura demasiado fundamentalista e literalista do Jesus histórico. Evitou também o extremo oposto de uma espiritualização divinizante de Jesus a ponto de esquecer-lhe a mordência humana e sua força questionadora a pedir a conversão de vida. Além disso, retomou a questão da relação instituição e carisma referente à dimensão jurídica da Igreja. A presença do carisma pela ação do Espírito Santo corrige o risco do juridicismo eclesiástico.
L. Boff relaciona a eclesiologia com a pneumatologia, considerando a Igreja como sacramento do Espírito Santo. Interpreta o carisma como seu princípio de organização ( ). Tal reflexão se faz hoje ainda mais importante em face de certa exacerbação institucional ( ). Na questão da teologia do Espírito Santo, a TdL defronta-se com situação paradoxal. De um lado, a percepção da necessidade de avançar a reflexão nesse campo, de outro, a constatação de que está em curso um deslocamento da pneumatologia para o terreno dos movimentos de espiritualidade e apostolado em perspectiva carismático-afetiva e não transformadora das estruturas eclesiásticas e sociais.
Procura, por isso, superar o aprisionamento da presença do Espírito Santo ao reduto da intimidade individual ou de grupos carismáticos ( ) e estudá-la na sua atuação na Igreja e na história humana. Na esteira de Puebla refere-se à ação do Espírito Santo em relação à renovação dos homens e consequentemente da sociedade, das leis e das estruturas e ao despertar do anseio de salvação libertadora no coração de nossos povos ( ).
A presença do Espírito mostra-se mais fortemente na consciência e ação dos pobres, sobretudo na experiência da descoberta da Palavra de Deus pelo povo. Já não mais como simples destinatário e objeto das interpretações do clero e das elites, mas como sujeito próprio de interpretação sobretudo nos círculos bíblicos, alimentados por enorme literatura bíblica popular e na criação de comunidades de base e de vida cristã. Finalmente, o Espírito alimenta a luta pela vida ( ). J. Comblin faz leitura da história à luz da ação do Espírito até os atuais desafios, apontando como critério de discernimento a opção pelos pobres ( ).
A TdL em face da pós-modernidade
A pós-modernidade traz desafios à TdL. Antes de tudo, a vitória do neoliberalismo no mundo econômico e a afirmação da cultura extremamente subjetivista, hedonista, fragmentada pós-moderna pedem que se considerem os conflitos da realidade para além do simples antagonismo das classes. Surgem movimentos sociais de amplitude mundial de caráter transclassista, transcultural, transétnico, transexual, transreligioso, de gênero que configuram novo quadro sócio-político, econômico, cultural e religioso. Deslocam-se as preocupações para o eclodir de problemas culturais e religiosos, em íntima relação com as estruturas da sociedade.
O Deus da vida ocupa espaço importante na TdL ( ). A vida vê-se ainda mais ameaçada pelo atual sistema neoliberal e pela sociedade do conhecimento que exclui os pobres do acesso ao conhecimento e portanto, da própria subsistência. Mais grave tornou-se-lhes a situação de modo que a TdL se faz ainda mais necessária. Joga-se o futuro dos pobres, pessoas, nações ou continente, no campo do acesso ao conhecimento. Tema novo a ser aprofundado no meio do colossal desenvolvimento da informática.
Trava-se a batalha entre a cultura de morte e a cultura da vida. Puebla já agitara tal problemática ( ), cuja gravidade aparece claramente nos dias de hoje. A TdL preocupa-se com a temática da cultura na sua diversidade: dos negros ( ) e dos índios ( ). Inseriu-se também na corrente teológica, especialmente vinda da Índia e África, desenvolvendo a temática da inculturação ( ) e do diálogo inter-religioso ( ). Já não se aceita a identificação simplista entre fé cristã e cultura ocidental. O futuro aposta na expressão da fé cristã em outras culturas.
Virada cosmogênica
O novo paradigma ecológico influenciou a TdL. A pergunta fundamental nesse paradigma não se prende à fé cristã, mas se estende ao futuro da Terra e de toda a humanidade. A fé cristã em todas as suas expressões juntamente com as outras religiões, se fazem co-responsáveis para manter viva a presença do Mistério sagrado no coração do universo, da história e do ser humano.
Surge-lhe o desafio da “ecologia profunda” e da espiritualidade cósmica. A Terra aparece como o novo pobre e o maior de todos, pelo tamanho e pelas terríveis consequências de sua morte para toda a humanidade. Doente, ela grita. Grito a ser articulado com o grito de todos os outros pobres da terra ( ).
Discute-se sobre o novo paradigma ecológico ( ) que atinge as próprias concepções cosmológicas, antropológicas em curso no Ocidente, não sem influência do Oriente. A TdL tem procurado articulá-lo com os reclamos de libertação dos pobres e excluídos para que não se imponha mentalidade ecológica e religiosa alheia ao mundo dos marginalizados e deserdados da história, prolongando-lhes, então, a situação de opressão. L. Boff defende a tese da imbricação profunda da libertação e ecologia. Propõe a articulação dos discursos da libertação e ecológico como ponte entre Sul e Norte ( ).
O surgimento de tal paradigma se deve a conhecimentos científicos da nova física quântica, a teoria da relatividade, do princípio de indeterminação de Heisenberg de um lado e, de outro, do imperativo prático da devastação da natureza pelo processo desenvolvimentista em curso no Ocidente. Aprendemos da ciência e da urgência dos problemas ecológicos, pensar o universo como uma complexa rede de relações em todas as direções e de todas as formas e como “tudo está relacionado com tudo em todos os pontos e em todos os momentos. Vigora uma radical interdependência dos sistemas vivos e aparentemente não vivos. Funda-se assim a comunidade cósmica e a comunidade planetária” ( ).
Tal cosmologia gera nova antropologia. O ser humano já não se entende como o Prometeu dominador do criado, mas como um membro dessa gigantesca comunidade do universo. O ser humano liga-se, por origem, a todo o universo pelo processo de complexificação e centração, como Teilhard de Chardin formulou ( ). Essa comunhão cósmica faz do ser humano alguém mais solidário, responsável e humilde. Surge nova consciência ética em relação a todo o cosmos.
Da ética se passa à mística e espiritualidade cósmica, passível de interpretação monista, como o faz a Nova Era ( ) ou libertadora ( ). A perspectiva monista reforça-se com a mística psicológica à base da psicologia transpessoal. Nela se acentua a identidade entre o “eu e o divino”. Espiritualidade sem Transcendência, centrada no eu e em busca de encontro com o divino aí presente. Responde à busca de consolo por parte das pessoas afligidas por tantos lados.
A mística dialógica e libertadora interpela a mística cósmica de corte panteísta e monista. O encontro com nós mesmos - mística psicológica - e a harmonia com o universo - mística cósmica - defronta-se com a “desarmonia escandalosa” do pobre e excluído socialmente. Ele cumpre mais uma vez a função de discernimento diante dessas místicas, desocultando-lhes as consequências antropológicas e sociais.
Certa mística, que suprime a liberdade pessoal e a responsabilidade histórica, deixando as estruturas sociais e injustas intocadas, termina numa paz e harmonia alheia à presença do outro e no fundo de um Deus pessoal. Tal espiritualidade assenta bem com o neoliberalismo atual. A TdL a questiona ao contrapor-lhe a presença do Outro – Deus e pobre.
A mística cristã da libertação reconhece a importância da descoberta da harmonia pessoal e com o universo. Comunga com o novo paradigma emergente. Percebe que certo militantismo combativo descuidou dimensões humanas e religiosas. No entanto, alerta para o fato de que tal harmonia não se construa à custa da própria liberdade e responsabilidade pela história. Dialoga evangelizadoramente com esse novo movimento eco-místico, não o considerando luxo dos países ricos do 1º Mundo, como se julgou em dado momento, mas como causa nobre e maravilhosa, desde que se insira nele a dinâmica da libertação dos pobres. A riqueza esbanjadora e a pobreza degradante poluem, destroem a natureza e geram desarmonia interior. A harmonia cósmica pede sobriedade dos ricos e melhor condição de vida dos pobres, evitando assim a contaminação da natureza e as rupturas interiores. A TdL traz como proposta a teologia da solidariedade, o novo nome da TdL para a harmonia. Só há harmonia interior e exterior, se os seres humanos construírem sociedade solidária. Do contrário, a violência, a droga, a indústria armamentista, a poluição dos países ricos perdulários ameaçarão o futuro dos pobres a curto prazo e o da humanidade a longo.
Virada de gênero
No começo a TdL sofreu do patriarcalismo, do machismo, sem sensibilidade para a beleza e a força do movimento feminista, tanto no campo sociocultural, antropológico quanto teológico.
As teólogas da libertação abriram o próprio caminho. Aproveitaram a maior afinidade com setor muito caro à piedade latinoamericana: a devoção a Maria. Nesse sentido, desenvolveram uma mariologia desde a ótica de mulher ( ). Além disso, enfrentaram o significado metodológico da teologia feminina, rompendo silêncio secular ( ) e marcando presença relevante na linha da libertação da mulher, sobretudo a pobre e oprimida ( ). Abordaram o tema do corpo, delicado e tabu na teologia ( ). Reivindicaram maneira própria de aproximar-se do mistério de Deus ( ), valorizando as dimensões sapiencial, simbólica, celebrativa, espiritual, poética. Produziram uma teologia em “mutirão” ( ).
CONCLUSÃO
Da abundante TdL escolhemos alguns pontos, muitos ficaram de fora. A TdL está a sofrer mais do silêncio do que das pressões eclesiáticas e ideológicas do mundo neoliberal. Prefere-se não falar dela.
No entanto, os problemas que ela enfrentou desde o nascimento conservam a gravidade e até se tornaram piores. Sua missão continua ainda importante como esperança dos pobres e como vertente libertadora da fé cristã.
A TdL sofrera, em décadas anteriores, pressão vinda do mundo social político conservador e de instâncias institucionais da Igreja. Hoje a situação mudou. No mundo social, a convicção de que não há alternativa válida ao sistema de mercado sob a forma neoliberal gerou segurança tal que as vozes adversas são consideradas como entulhos do passado sem relevância.
As preocupações eclesiásticas, tanto no referente à doutrina quanto à prática pastoral, vão noutra direção. Teologicamente, a temática do diálogo inter-religioso preocupa doutrinalmente as instâncias romanas. A ameaça vem antes da Índia que está a elaborar teologia original em que se pensa a tradição cristã no horizonte de suas tradições religiosas antigas.
No mundo pastoral, a difusão e o crescimento das igrejas pentecostais e neopentecostais apavoram a hierarquia e aí ela concentra as energias. As estatísticas de países tradicionais, como o Brasil, assinalam verdadeira sangria do catolicismo para as outras igrejas em fluxo contínuo. Como estancá-la? Que rosto de Igreja mostrar que se torne atraente para os que a abandonaram? O Documento de Aparecida focaliza como primeiro destinatário do projeto evangelizador aqueles que deixaram a Igreja católica. Nesse contexto, a TdL e a pastoral da libertação saíram de foco, para bem e para mal.
Para bem, porque ela pode prosseguir o trabalho sem tantas críticas e cerceamentos eclesiásticos e disciplinares. E ela continua o trabalho em ambos os níveis, teórico e prático. Para mal, porque se defronta com desinteresse crescente e com a desistência por parte de muitos dos antigos protagonistas políticos e eclesiásticos.
No entanto, o mundo dos pobres continua crescendo e a situação torna-se pior. E eles permanecem sendo pergunta teológica à fé cristã ( ). A incerteza deles aumenta. Cresce a exclusão. Por isso, a preocupação por eles continua sendo tônica da teologia e, neste sentido, esta é-lhes réstia de esperança além de perceber aí maior responsabilidade social e histórica. Ser apelo de conversão a todos é sua vocação missionária. Ser reflexão séria, coerente e regrada, é sua tarefa intelectual. Estar aberta a sempre novas reformulações, autocríticas, aperfeiçoamentos, é sua possibilidade de futuro.
A TdL ressente ainda do pouco tempo de existência e da falta de sério confronto crítico interno. Neste sentido, talvez grande parte ainda esteja por ser escrita. O seu futuro interliga-se profundamente ao destino de vida dos pobres no processo histórico vigente. Em outras palavras, ela só terá futuro, se, nas próximas décadas, a perspectiva a partir do reverso da história e a força histórica dos pobres ainda tiverem valor e forem pensáveis.
Perguntas
1. Na sua intelecção quais são os pontos nodais da Teologia da libertação?
2. Para sua vivência pessoal e comunitária que aspectos da Teologia da libertação tiveram e ainda têm importância?
3. Que ações pastorais a Teologia da Libertação provocou e está a provocar?
Artigo publicado na Revista Convergência: 46 (2011), n. 438, p. 27-42
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