Escrito por Waldemar Rossi |
Qua, 29 de Junho de 2011 05:54 |
Durante todos os oito anos do governo Lula, comentaristas políticos e econômicos vinham advertindo para os riscos das medidas de incentivo consumistas tomadas pelo governo, objetivando aquecer a compra de produtos industriais. Para esse aquecimento várias campanhas foram desenvolvidas e medidas oficiais tomadas. Entre tais medidas, destacou-se a dos empréstimos bancários aos aposentados de baixa renda, a juros mais baixos que os juros oficiais.
Aliado a essas e outras medidas, o capital passou a distribuir cartões de crédito por todos os “poros”, intensificando campanha para seu uso nos gastos pessoais ou familiares. E o povo correspondeu largamente ao apelo, o que fez com que o comércio se aquecesse e a produção fosse dinamizada. O resultado disso fez a oferta de emprego crescer, gerando uma bolha de consumo de massa.
Durante a crise financeira que abalou o mundo capitalista em 2008, com o objetivo claro de impedir que no Brasil as mesmas empresas entrassem em pânico, Lula ofereceu incentivos fiscais ao setor automobilístico e posteriormente também ao de eletrodomésticos. A pequena queda nos preços dessas mercadorias gerou forte corrida entre os compradores, animados que foram pela oportunidade de compra em médio e longo prazo, e isto contribuiu para o salvamento das empresas ameaçadas pela inadimplência.
Entretanto, a imensa maioria dos novos postos de trabalho, mesmo com carteira assinada, se destacou pela baixa remuneração: cerca de 70% de tais empregos pagam salários inferiores a três Salários Mínimos (SM); a maioria deles fica abaixo de dois SM, incluídos mais de um milhão de trabalhadores recebendo abaixo de um SM.
Com o que não contavam os compradores, em grande parte, era com as armadilhas colocadas nessa política, pois nossa economia oscila entre altos e baixos, gerando ondas de desemprego e de rotatividade no trabalho. Outro fator importante, não considerado por muitos dos consumidores, é que o crediário é “bomba de efeito retardado”, porque compromete os gastos essenciais de uma família, como alimento, roupas, calçados, luz, água, transporte, aluguel e possíveis doenças. E o resultado doloroso acaba de vir à tona.
Se muitas empresas foram salvas da inadimplência, o mesmo não aconteceu com milhões de compradores: “O endividamento do brasileiro atingiu nível recorde. A dívida total das famílias no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, incluindo recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), corresponde a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social no país, aponta estudo da LCA Consultores ao qual o ‘Estado’ teve acesso”. “Se, do dia para a noite, os bancos decidissem cobrar a dívida total das pessoas físicas, isto é, juros e empréstimo principal, que chegou a R$ 653 bilhões em abril, cada brasileiro teria de entregar o equivalente a 4,8 meses de rendimento para zerar as pendências” (Estadão, Economia, pág.1, de 27/06/2011).
O mais preocupante é que não há, até agora, um único sinal de que Dilma Rousseff vá mudar os rumos de tal política. Até pelo contrário, está abrindo os cofres públicos para garantir as obras que visam a Copa do Mundo, as Olimpíadas, a construção da barragem Belo Monte... Enquanto congela mais de R$ 50 bilhões destinados à Saúde, Educação...
Para nossos governantes, a vida do povo pouco importa, desde que o sistema empresarial predador esteja a salvo, desde que os interesses dos que bancaram financeiramente suas campanhas eleitorais não sejam afetados.
Onde andam as Centrais Sindicais e certos movimentos populares, que deveriam defender os reais interesses dos trabalhadores? Mamando nas tetas dos cargos no governo. Para seus dirigentes, os trabalhadores que se lasquem, desde que tenham seus espaços políticos e financeiramente rentáveis! Até quando?
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo. |
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