terça-feira, 24 de maio de 2011

Eduardo Campos: um novo caminho para o velho precipício

 Edilson Silva*
 
O PSB, partido no qual tenho pessoas de grande estima, apresentou recentemente seu programa nacional de TV. Na verdade, o programa foi a abertura da campanha nacional do pré-candidato Eduardo Campos à presidência da República. Quem assistiu percebeu o explícito mote publicitário: “um novo caminho para um novo Brasil”.

A estratégia e a tática piscaram em letras luminosas: oposição dissimulada por dentro do governo Dilma, pegando carona na popularidade de Lula, enquanto constrói na sociedade a idéia de que o PT no governo foi muito bom enquanto durou, porém já não tem mais condições de levar o barco adiante. Ele, Eduardo, seria o novo caminho, para a “peteca não cair”.

Seria cômico se não fosse trágico. Enquanto o governador apresentava ao Brasil uma de suas retóricas preferidas, o “Pacto pela Vida” na segurança pública, inclusive com policiais militares na peça publicitária, as associações dos mesmos policiais militares do Estado, dos praças aos oficiais, faziam uma assembléia na Praça do Derby e fechavam a Avenida Agamenon Magalhães em protesto contra a política salarial discriminatória em relação à Policia Civil e contra as retaliações do governador que cortou de forma ilegal e ilegítima os descontos consignados e voluntários nos contra-cheques dos policiais em favor de suas associações.

Talvez seja por isso que o governador anda ultimamente dando muita entrevista de fôlego só lá para as bandas do sul. Aqui, onde ele governa, algo pode sair do script e as perguntas podem ser inconvenientes. Melhor falar em “conceitos de governança” na Folha de São Paulo, no Valor Econômico.

Mas causa mesmo curiosidade este novo caminho que o nosso governador busca apresentar. Na segurança pública não é. Os números de homicídios no Estado são maquiados. Em termos absolutos, em todo o Estado, continua praticamente a mesma média histórica do governo anterior. Diminuiu em Recife, mas no resto do Estado o retrato é trágico e remonta o passado no presente. Os policiais militares, esforçados e principais responsáveis pelos números de Recife, recebem do governador arrocho salarial e perseguição às associações, numa truculência condenável. Isso não é novo, é velho e anti-republicano.

Vamos para a saúde pública. O que há de novo¿ UPAs que causam o fechamento de ambulatórios nos municípios¿ Novos hospitais que só atendem seletivamente, não atendem casos graves¿ Desrespeito ao Conselho Estadual de Saúde¿ Privatização da rede e fim dos concursos públicos para servidores na saúde pública¿ Isso não é novo, mas sim um retrocesso histórico no Controle Social da saúde e na construção do SUS.

Vamos para a educação. O pior salário do magistério do nordeste, o pior do Brasil. A gratificação sobre o piso do magistério, piso votado no Supremo Tribunal Federal, foi retirada pelo governador e sua base aliada na Assembleia Legislativa. Em Pernambuco há duas escolas públicas, uma de referência, para uma minoria, onde alunos e professores são minimamente respeitados, e outra, da grande maioria, onde se faz de conta que se ensina. É um depósito de jovens, onde não se tem professores de muitas disciplinas e onde se busca a todo custo acelerar a conclusão das séries. Isso não é novo, é uma vergonha e uma irresponsabilidade com o futuro.

E no respeito ao meio ambiente, há algo de novo¿ Novamente, não! O governador vai entrar para a história como maior aterrador de manguezais de Pernambuco dos últimos três séculos pelo menos. Vai entrar para a história como o governador que desrespeitou a razão, a ciência e a Constituição Estadual, construída na época de seu avô, Miguel Arraes, que proíbe usinas nucleares no Estado. O governador trabalha dia e noite pela vinda destas usinas para cá. Isso não é novo, mas sinônimo de crescimento predatório, que destrói a natureza e que não gera desenvolvimento.

E no respeito ao desenvolvimento socialmente sustentável¿ As manchetes dos jornais de Pernambuco mostram o preço que nossa população está pagando pelo crescimento econômico no “estilo” Eduardo Campos. As cidades do entorno de Suape estão recebendo muitos investimentos para gerar lucros para uma minoria e empregos para alguns milhares de trabalhadores. Milhares de homens deslocaram-se para o nosso Estado, atraídos como que para um garimpo. O Estado só se preocupou em construir galpões para receber esses milhares de homens, mas não pensou em transporte, habitação, entretenimento saudável, preparação das comunidades locais para este choque cultural. O resultado são incontáveis jovens entregues à prostituição e a desestruturação de incontáveis famílias. O caos social instalou-se.

E na cultura política, o que nos traz de novo o jovem governador Eduardo Campos¿ Ele nos traz o PSD de Kassab! O novo partido que surge a partir da liderança do prefeito paulistano, emerge como parte da articulação nacional de Eduardo Campos para tentar governar o Brasil. Em Pernambuco, o presidente do PSD local, o ex-DEM André de Paula, antes de assumir a tarefa teve que ser ungido pelo governador nas dependências do Palácio do Campo das Princesas. O Partido do Kassab, uma espécie de articulação política de Eduardo Campos, nasce com a cláusula pétrea da infidelidade partidária, uma vergonha, mas uma exigência da “nata” política que se socorre neste partido por não suportar o pesado fardo de viver fora dos corredores do poder. Isto não é novo, é a mais velha e repugnante política.

Então, o Brasil precisa sim de um novo caminho, mas um caminho que aprofunde a democracia participativa, que construa, como mínimo, uma equação equilibrada entre crescimento econômico com sustentabilidade e responsabilidade socioambiental. E os exemplos dados pelo governador de Pernambuco em sua gestão vão no sentido contrário. É o que existe de mais velho.

Presidente do PSOL-PE


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