Sem patrão
Única no Brasil, a fábrica Flaskô foi ocupada em 2003, e desde então funciona sob a gestão dos trabalhadores.
Por Bárbara Mengardo
Oswaldo da Costa Neto, ou Shaolim, como é conhecido, mostra com empolgação seu local de trabalho, a fábrica Flaskô, localizada em Sumaré, interior de São Paulo. A produção é relativamente simples: a matéria-prima, polietileno, chega ao terreno em pequenos flocos, que são colocados em uma das máquinas que a fábrica possui. Dentro do aparato o material é derretido e moldado, e menos de dois minutos depois estão prontas as bombonas (tambores plásticos), que são retiradas pelos trabalhadores, aparadas e prontas para a venda, sendo utilizadas em geral para armazenamento de produtos químicos e alimentícios.
A diferença entre a Flaskô e outras fábricas, entretanto, não está nas linhas de montagem. Nesta fábrica não existem patrões, os trabalhadores não têm seu tempo minuciosamente calculado e a jornada de trabalho é de 30 horas semanais. Lá, os índices de acidentes são ínfimos, e os funcionários recebem acima do piso da categoria. Estas são apenas algumas das mudanças feitas na fábrica após junho de 2003, quando os trabalhadores, cansados de não receberem seus salários e terem seus direitos ignorados, tomaram a decisão de ocupar a fábrica, e gerirem coletivamente a produção.
Mas antes de contar como uma pequena fábrica conseguiu derrubar um dos pilares sobre o qual se ergue o capitalismo - o patrão -, é preciso retomar a história de duas outras fábricas, a Cipla e a Interfibra, contar sobre o Movimento das Fábricas Ocupadas e esclarecer que apesar de no Brasil a Flaskô ser a única fábrica sob controle dos trabalhadores, existem outras experiências como essa brotando em toda a América Latina.
História
A primeira parte da história da Flaskô é muito similar à de muitas outras fábricas brasileiras. Durante sua gestão patronal, fazia parte do grupo econômico Hansen Batschauer, que colecionava processos pelo não pagamento de salários e direitos trabalhistas, fraudes e irregularidades “Na época da abertura econômica, os sócios do grupo foram os primeiros empresários presos, por má gestão, fraude” afirma Alexandre Mandl, advogado e Membro da comissão de fábrica da Flaskô.
Os trabalhadores de todas as fábricas do grupo sofriam os efeitos das más gestões: salários atrasados, que vinham em pequenas parcelas, de R$ 30, 50 ao longo das semanas, demissões em massa, cortes de energia, falta de matéria-prima.
A primeira reação veio por meio das fábricas Cipla, do ramo plástico, e Interfibra, que produz tubulações, ambas localizadas em Joinville, Santa Catarina. Em março de 2002, elas iniciam greve, que foram duramente reprimidas. Em outubro, mais uma greve, e, desta vez, o final é diferente.
Os trabalhadores ocuparam as fábricas, passando a gerir a produção. As máquinas continuaram em funcionamento, mas quem tomava as decisões eram os trabalhadores, coletivamente.
Na época, outro fator impulsionou a luta dos trabalhadores. As pesquisas apontavam que Lula ia ganhar as eleições, um ex-operário iria assumir a presidência do país.
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