quarta-feira, 30 de março de 2011

PRONUNCIAMENTOS DE CHICO ALENCAR - DEPUTADO FEDERAL PSOL RJ



Por detrás da Obamafolia
24/03/2011

O presidente Obama, com a audiência que um chefe de estado dos EUA sempre tem, disse que a “democracia brasileira é exemplo para o mundo árabe”. Mas a euforia com que a Mídia Grande noticiou sua vinda ao Brasil encobriu um fato lamentável: 13 pessoas foram presas arbitrariamente durante um ato pacífico e ficaram detidas 3 dias em presídios e centros de triagem para menores. As manifestações contrárias à política externa estadunidense, coordenada por Obama, foram mostradas de forma secundária, para não “macular” a grande festa – chamada por alguns até mesmo de “Obamafolia” – e a propaganda oficial de que o “o futuro já chegou para o Brasil”.

Na sexta-feira (18/03), militantes de movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda protestavam em frente ao consulado norte-americano quando um indivíduo, de forma irresponsável, sem qualquer autorização do conjunto do ato, arremessou um coquetel molotov contra o prédio da representação. Em resposta, a Polícia Militar escolheu aleatoriamente 13 pessoas – dez homens e 3 mulheres – e as detiveram.

Um vídeo divulgado na internet comprova que boa parte destes militantes presos realizava um jogral, distante do local, no momento em que o artefato foi arremessado. A polícia parece não ter interesse em elucidar os fatos. O consulado norte-americano, onde a CIA certamente tem seus equipamentos sofisticados, também não revela o que sabe.

Outra prova de que as prisões foram realizadas de forma arbitrária foi a detenção de uma senhora conhecida como “Vovó Tricolor”.   Personagem folclórica no Rio, Maria de Lourdes costuma passear por Copacabana levando um galo pela coleira, vestida com o uniforme do Fluminense. Ela não é militante política. Passava na hora pela Avenida Rio Branco, decidiu aderir à manifestação e foi presa.

Em poucas horas, com uma “eficiência” inédita, a 5ª DP instruiu inquérito com mais de 200 páginas e a Justiça determinou cadeia para 13 cidadãos acusados de “incendiários” e “formadores de quadrilha”. 8 deles tiveram suas cabeças raspadas, ato humilhante sem qualquer justificativa plausível. Síndrome de Guantánamo?

Acompanhei de perto a situação dos presos e estive no fórum junto com outros deputados. Redigimos uma nota exigindo sua imediata liberação, logo assinada por 23 parlamentares do PSOL e de vários outros partidos. E uma petição na internet recolheu, em poucas horas, mais de 7300 assinaturas.

O presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, condenou a prisão dos manifestantes: "foi um ato arbitrário, incompatível com o estágio da democracia que alcançamos no Brasil. Somos um país soberano e não precisamos mostrar truculências diante de qualquer chefe de estado estrangeiro para mostrar autoridade. A prisão dos manifestantes não se deu em flagrante. É injustificável também o não relaxamento da prisão pelo Judiciário durante o final de semana, sob o argumento de que eles representavam uma ameaça ao presidente dos Estados Unidos. Isso agride a consciência jurídica da Nação".

Na noite de ontem, segunda feira (21/03), finalmente teve fim a angústia dos presos políticos, seus familiares e companheiro(a)s. Mas cabe ação contra o Estado por abuso de poder e danos morais!

A vinda do presidente Obama não foi marcada apenas pelo seu carisma ou por sua busca de novos mercados e do pré-sal para os empreendimentos norte-americanos. Sua visita à Brasília e sua fala simpática no Teatro Municipal ficarão também para a história ligados à prisão arbitrária de 13 manifestantes, à proibição das manifestações na Cinelândia – conhecido palco das mobilizações democráticas no Rio de Janeiro – e a ordem dada para que se inicie os ataques à Líbia – sob risco de se tornar, no lugar da correta defesa dos direitos humanos, um pretexto para ocupar militarmente mais um país produtor de petróleo. Na Líbia, a suposta defesa da população civil contra a violência de Kadafi está vitimando ainda mais a própria população civil.

 http://www.chicoalencar.com.br/_portal/index.php

Fraternidade e vida no planeta
17/03/2011
Desde 1964 os cristãos brasileiros celebram a Campanha da Fraternidade no período da Quaresma.  É tempo de oração, olhar e agir para o próximo, escutar o corpo, o espírito e o psíquico. Num movimento de superação de qualquer dicotomia entre fé e vida, os cristãos convidam toda a sociedade para a reflexão de temas fundamentais.

Este ano a Campanha da Fraternidade tem por tema a “fraternidade e a vida no planeta” , que como ressalta Dom Orani, Arcebispo do Rio de Janeiro: “questiona a nossa vida e nossas opções quando verificamos que ‘a criação geme em dores de parto’ (Rom 8,22), supondo a coragem de acolhermos o chamado à conversão para uma vida mais sóbria e humana”. A tragédia no Japão, com suas cores cinzentas cada vez mais dramáticas, não pode nos deixar inertes.

A primeira vez que a Campanha da Fraternidade se dedicou ao tema da ecologia foi em 1979, com o lema ‘Preserve o que é de todos’. Em 2002, veio a Campanha que alertou sobre a Amazônia; dois anos depois, a Campanha de 2004 trabalhou a questão da água, e a Campanha de 2007 discutiu o tema ‘Fraternidade e os Povos Indígenas’, e com ênfase na questão da terra e dos seus cuidados.

Vivemos uma crise ambiental resultado da incompatibilidade dos tempos acelerados do produtivismo capitalista, com sua necessidade crescente de lucro e consumo, e os tempos mais lentos da natureza: os ritmos da vida e da biosfera são modulados por processos físico-químicos e biológicos que não se submetem ao ritmo do mercado. Com a Campanha que se inicia, as Igrejas e a sociedade terão uma nova oportunidade para refletir sobre a biodiversidade, o aquecimento global, o uso da energia, a preservação da Amazônia, a produção de alimentos.

A Campanha da Fraternidade nos convida a pensarmos ações concretas para reverter este quadro nos níveis pessoal, comunitário e de governo. Não podemos seguir vivendo “uma crônica de catástrofes anunciadas”, como ressaltou, em brilhante texto, publicado em O Estado de São Paulo em 23/01/11, que registro nos Anais da Casa, o professor da Universidade da Califórnia e Membro da Academia Nacional de Ciências e da Sociedade Filosófica Americana, Jared Diamond:

“Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. (...)

O segundo fator é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são os aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. (...)

O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los. (...)

Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, e exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. (...)

É a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso, isso repercute ao redor do mundo. (...)

O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje.

Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. (...)

O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo.  (...)”






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