MST: a necessidade de novas respostas Escrito por Raymundo Araujo Filho | |
30-Mar-2011 | |
Há alguns meses atrás critiquei a declaração do Secretário Geral do MST e membro da Via Campesina João Pedro Stedile, quando disse "que o mais importante agora era lutar contra as corporações e oligopólios internacionais e não reivindicar a Reforma Agrária, pois, se não atacarmos quem a impede, seria o mesmo que enxugar gelo" (ou algo neste sentido). Mesmo sem concordar com esta afirmativa, apoiei a ação direta nos laranjais da Cutrale, combatendo a contra-informação da mídia corporativa, que criminalizava o MST, cuja base eu respeito e na qual tenho muitos amigos e ex-alunos, por força do trabalho que eu desenvolvia no campo - seqüestrado, afinal, por minhas posições políticas de esquerda não corporativa. De muito tempo para cá, Stedile comanda, a meu ver, o total eclipse do MST, inclusive com o apoio à candidatura DiLLma, a partir da justificativa absurda de que "precisamos apoiar a continuidade do governo Lulla", mas sem explicar por quê. Além de paralisar a Reforma Agrária, foi o governo Lulla que anestesiou a direção do MST, enfraquecendo o único trunfo do movimento popular, que são as massivas mobilizações. Neste sentido, o jornalista José Arbex Junior chegou mesmo a se desligar da direção da Escola Florestan Fernandes e do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato, em função do apoio que o jornal, ao lado de outros órgãos de comunicação alternativa, democrática e progressista, optou por conceder à candidatura Dilma. Em sua carta de saída, denuncia a imposição do pensamento único autoritário, e em favor da adesão a algo inadmissível. Leia a carta aqui, pois todos fizeram cara de paisagem, fingindo que ela não foi escrita. Fato é que, após a eleição de DiLLma, para o assombro ou não de todos aqueles que a apoiaram, o que veio não me causou surpresa, a saber: 1) O total abandono das falas sobre novos assentamentos e melhoria dos já existentes; 2) A não citação, no discurso de posse de DiLLma, da Reforma Agrária e nem da agricultura familiar (e tampouco da produção ecológica), ao contrário, enaltecendo o patamar de grande exportador de grãos (soja) alcançado pelo Brasil; 3) A utilização das Forças de Segurança Nacional e policiais militares para reprimir trabalhadores das usinas do PAC e nas manifestações contra Obama; 4) A tentativa de troca de comando na Vale, em clara barganha de favores entre o Bradesco e o governo DiLLma, que "agradará" o banco com a facilitação de "joint-ventures" internacionais, como já foi anunciado; 5) O silêncio das organizações e federações sindicais, TODAS mantidas por verbas públicas doadas por Lulla através de lei, omitindo-se sobre a iniqüidade dos canteiros de obras; tendo sido eles ATROPELADOS pelos trabalhadores revoltados, clamaram ao Obama (em laudo convescote e refeição) a derrubada das "barreiras fiscais", para que a CUTRALE e os usineiros (os heróis do Lulla, lembram?) possam exportar o suco de laranja que os pobres brasileiros não podem tomar, e o álcool combustível feito de sangue de trabalhadores rurais, enquanto cai o consumo de feijão entre nós; 6) O anúncio da venda de petróleo cru aos EUA, em troca de papéis da dívida daquele país, e a já anunciada importação de álcool e gasolina dos ianques. Silêncio obsequioso A única fala de Stedile, da eleição de DiLLma para cá, foi a reclamação, há cerca de um mês, de que estava difícil a nomeação de seu "eleito" Paulo Lacerda para a presidência do INCRA, além da possível não nomeação do deputado petista (egresso do MST) João Grandão (amigo do João Bafo de Onça?). Reclamou também que até o chefe de evento de moda a presidente recebeu, mas não o MST. De lá para cá, embora o Brasil tenha sofrido, em curtíssimo período, a formatação hiperneoliberal de DiLLma (Lulla era só neoliberal), não se viu Stedile em lugar algum, em uma espécie, talvez, de clandestinidade providencial . Para quem não nasceu ontem para a política, sabe que, parafraseando antigo e delicioso bordão, imortalizado pelo genial ator e humorista Brandão Filho (fica a minha homenagem a ele) "Aí tem!". E teve mesmo! Dias atrás foi anunciada a nomeação de Paulo Lacerda para a presidência do INCRA, a meu ver, atrelando o MST às necessidades do governo, e não o contrário, como seria justo. E a tal reunião com DiLLma, pelo visto, já houve....na clandestinidade, pois anunciada não foi. Senão vejamos: O "silêncio obsequioso" por parte da direção do MST (a igreja de Roma faz escola no MST, ou será o bispo Macedo?) esteve muito provavelmente relacionado a uma barganha para que se desse a nomeação de Paulo Lacerda (rasgo minha certidão de nascimento, caso isso não seja verdade). A desmobilização do MST deve ser a moeda de troca a ser operada em troca das migalhas governamentais. Pergunto: 1) Como conciliar uma nomeação ao governo de natureza entreguista com a necessidade de radicalizações em manifestos públicos da base do movimento, a esta altura entregue ao Deus dará? 2) Como negar que esta engenharia política macabra não seja apenas para manter respirando por aparelhos o paciente comatoso em que, infelizmente e a meu ver, o MST vai se tornando, sob a batuta de um grupo hegemônico?; 3) O que se pretende com isso? A boa notícia é que, quem sabe, desta vez, saia o projeto de erguer algumas Escolas da Reforma Agrária já projetadas, uma delas em Nova Iguaçu em terreno cedido pelo SINDIPETRO-RJ, cujos projetos estão sem verba, há anos. Esclareço, no entanto, que Escolas deste tipo não são para a Reforma Agrária, talvez para outras doutrinações conservadoras, que os "diretores" proclamam de "esquerda", sem realmente o serem. O método que usamos para as nossas Jornadas de Capacitação e Aprendizagem Rurais é conflitivo com este escolhido pela direção do MST, baseado nas escolas burguesas e militares prussianas (com roupagem, apenas roupagem, de esquerda), retirando os assentados de seu meio social cotidiano, em direção a locais "especiais" onde lhes dizem que vão aprender o trivial. Igual à vida burguesa. O método que usamos, reverenciado pelos assentados e detestado pelas direções do MST e governos, é baseado em Paulo Freire e Francisco Ferrer y Guardia (Escola Nova), onde "o local de nossas vivências deve ser o local de nosso aprendizado", sem diferenciação de uma casta de escolhidos, acrescento eu, em geral por serem subservientes, que SEMPRE se acharão superiores aos seus, que não tiveram a mesma oportunidade. São os futuros Inspetores Gerais de Becket. Termino este artigo dizendo que é preciso que haja uma explicação e posicionamento à sociedade (que, afinal, paga com impostos o que é repassado para o movimento e se expõe em apoio a ele) sobre a denúncia relativa ao PRONERA-MG (coordenado por Alexandre Chumbinho, e organizado pelo MST, Universidade Metodista e MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário), no qual a grande maioria dos alunos matriculados NÃO são filhos de agricultores, como exige o Programa, mas sim "indicações políticas", como afirmou a secretária da universidade, ao telefone. Esta denúncia, feita pelo companheiro Julio Castro (conhecido articulista político e poeta, além de profissional ligado a melhorias nos assentamentos), custou-lhe, entre outros, a perda do emprego. Com a palavra, os citados. Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e irá até as últimas conseqüências para tornar claro o que está obscuro. E avisa que não tem medo de cara feia. http://www.correiocidadania.com.br/content/view/5654/9/ |
quinta-feira, 31 de março de 2011
O SONHO DE PAULO FREIRE,
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