Domingo, 20 de março de 2011
Revolta operária em Jirau - Grandes projetos, tragédias anunciadas
A seguir, a nota do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)sobre a revolta operária no canteiro da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia:
Nesta semana acompanhamos a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de
Jirau contra as empresas que controlam a barragem. Existem informações de
que os mais de 15 mil operários da obra estão em situação de
superexploração, com salários extremamente baixos, longas jornadas e
péssimas condições de trabalho, que existe epidemia de doenças dentro da
usina e não existe atendimento adequado de saúde, que o transporte dos
operários é de péssima qualidade, sofrem com a falta de segurança e que mais
de 4.500 operários estão ameaçados de demissão. Esta é a realidade da vida
dos operários.
Esta situação tem como principal responsável os donos da usina de Jirau, o
Consórcio formado pela transnacional francesa Suez, pela Camargo Corrêa e
pela Eletrosul. As revoltas dos operários dentro das usinas tem sido cada
vez mais frequentes e isso é fruto da brutal exploração que estas empresas
transnacionais impõem sobre seus trabalhadores.
Há pouco tempo houve revolta na usina de Foz do Chapecó, também de
propriedade da Camargo Corrêa, em 2010 houve a revolta dos operários da
usina de Santo Antonio e agora temos acompanhado a revolta dos operários da
usina de Jirau.
As empresas construtoras de Jirau são as mesmas que foram denunciadas em
recente relatório de violação de Direitos Humanos, aprovado pelo Governo
Federal, que constatou que existe um padrão de violação dos direitos humanos
em barragens e de criminalização, sendo que 16 direitos têm sido
sistematicamente violados na construção de barragens. Os atingidos por
barragens e os operários tem sido as principais vítimas.
A empresa Suez, principal acionista de Jirau, é dona da Barragem de Cana
Brava, em Goiás, e Camargo Corrêa é dona da usina de Foz do Chapecó, em
Santa Catarina. Essas duas hidrelétricas também foram investigadas pela
Comissão Especial de Direitos Humanos em que foi comprovada a
violação. Estas empresas tem uma das piores práticas de tratamento com os
atingidos e com seus operários.
Em junho de 2010, o MAB já havia alertado a sociedade que em Jirau havia
indícios e denúncias, que circularam na imprensa local, de que as empresas
donas da Usina de Jirau haviam contratado ex-coronéis do exército para fazer
uma espécie de trabalho para os donos da usina de Jirau e não seria surpresa
se estes indivíduos contratados pelas empresas promovessem ataques ou
sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros
e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.
A revolta dos operários é reflexo desse autoritarismo e da ganância pela
acumulação de riqueza através da exploração da natureza e dos trabalhadores.
Prova desse autoritarismo e intransigência é que estas empresas se negam a
dialogar com os atingidos pela usina e centenas de famílias terão seus
direitos negados. As consequências vão muito além disso, pois nesta região
se instalou os maiores índices de prostituição e violência.
Em 2011, O MAB completa 20 anos de luta e os atingidos comemoram a
resistência nacional, mas também denunciam que estas empresas não tem
compromisso com a população atingida e nem com seus operários. Recebem altas
taxas de lucro que levam para seus países e o povo da região fica com os
problemas sociais e ambientais.
O MAB vem a público exigir o fim da violação dos direitos humanos em
barragens e esperamos que as reivindicações por melhores condições de
trabalho e vida dos operários sejam atendidas.
- Água e energia não são mercadorias!
Coordenação Nacional - Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
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