O grande culpado pelo caos nuclear japonês é o capitalismo |
Escrito por Celso Lungaretti | |
16-Mar-2011 | |
Deu no Opera Mundi: "Um despacho de 2008 da embaixada dos Estados Unidos em Tóquio revela o descontentamento e preocupação de uma importante figura política japonesa em relação à política nuclear de seu país. No documento, era informado que o governo encobria informações sobre acidentes nucleares, além de ocultar os custos e problemas associados a esse ramo da indústria. A conversa entre Taro Kono e um grupo diplomático norte-americano teria ocorrido em outubro daquele ano, durante um jantar. O relatório (...) foi obtido pelo site WikiLeaks e publicado pelo Guardian. O deputado Kono, um dos principais líderes do Partido Liberal-Democrata, que governou o país de 1995 a 2009 e, portanto, estava no poder no momento do encontro, mirou suas críticas na atuação do Ministério da Economia, Comércio e Indústria, responsável pelo setor nuclear no país, e nas companhias energéticas japonesas. No documento, ele fazia forte oposição à estratégia energética e nuclear japonesa, especialmente em relação a questões como custos e segurança. Segundo os documentos, o deputado acusou o ministério de sonegar e selecionar informações do setor a serem repassadas aos parlamentares de acordo com seu próprio interesse. No despacho, Kono também teria demonstrado grande preocupação com os resíduos de energia nuclear coletados pelas empresas, já que o Japão não possui nenhum local de armazenamento permanente dos resíduos de alto nível. O documento indicava outra grande preocupação do deputado, que relacionou os armazenamentos temporais com a alta atividade sísmica do país, e alertava sobre a possibilidade e do risco de os materiais serem filtrados em águas subterrâneas em caso de terremoto. O deputado teria relatado que as companhias energéticas japonesas ocultavam diversos problemas... ...Perguntado sobre a influência das companhias energéticas no país, Kono assegurou que uma rede de televisão realizou uma entrevista com ele, repleta de críticas ao setor, e que seria apresentada em três partes. Mas, após o primeiro programa, ela se viu obrigada a cancelar a exibição, pois as empresas ameaçaram cancelar o patrocínio à rede". Novamente se confirma o que eu afirmei no post de três dias atrás: "Para quem não engole os contos da carochinha do sistema, salta aos olhos que as usinas nucleares jamais serão totalmente seguras. Trata-se de mais uma opção que o capitalismo impõe à humanidade, a partir de um enfoque em que a relação custo/benefício é tudo e a vida das vítimas, nada". Interesses empresariais prevaleceram sobre o imperativo de se preservar a existência humana. O lucro pesa mais do que a vida. Governos são corrompidos. Informações vitais, sonegadas. Emissoras de TV, coagidas a calar denúncias. E assim, o país mais castigado até hoje por bombardeios atômicos agora se vê ameaçado de passar por horrores semelhantes em função de um mais do que previsível acidente nuclear. Se é discutível a operação de usinas nucleares nos mais remotos desertos, sua instalação em áreas povoadas só pode ser qualificada como um crime contra a humanidade. E pensar que, sob o primado da ganância, ainda se maximizaram os riscos para que as companhias energéticas multiplicassem seus ganhos! O capitalismo há muito deveria ter sido substituído por uma forma de organização da sociedade fundada na cooperação entre os homens para a promoção do bem comum -- única possibilidade de sobrevivência da humanidade num planeta superpovoado e com recursos naturais finitos. Agônico e putrefato, ameaça provocar o extermínio da espécie humana, com a conjugação de catástrofes naturais decorrentes das alterações climáticas e catástrofes nucleares das quais os terremotos, tsunamis, furacões, inundações etc. serão o estopim. Os avisos nos estão sendo todos dados. Se demorarmos a despertar para a magnitude dos desafios que enfrentamos, poderemos começar a reagir só quando a situação já tiver chegado a um ponto de não retorno. Celso Lungaretti é jornalista e escritor. www.correiocidadania.com.br |
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