sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Governo investiga compra de terreno por ministro da Integração Nacional


12/01/2011 - 08h01

Governo investiga compra de terreno por ministro da Integração Nacional



RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A PETROLINA (PE)
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), é dono de um terreno que a União cedeu a Petrolina (PE) quando ele era prefeito da cidade. A negociação está sendo investigada pela SPU (Secretaria do Patrimônio da União).
Coelho comprou o terreno em 2007 e montou uma sociedade com a Funcef (fundo de pensão dos servidores da Caixa Econômica Federal) para a construção de um hotel de 102 quartos, prestes a ser inaugurado.
Valter Campanato/ABr
Governo investiga compra de terreno por novo ministro da Integração Nacional
Governo investiga compra de terreno por novo ministro da Integração Nacional
Um ano antes, quando Bezerra Coelho era prefeito de Petrolina, o município concedeu uma licença prévia para a realização da obra.
Procurada pela Folha, a SPU considerou irregular a venda do terreno, embora ainda aguarde um parecer definitivo, a ser feito pela Advocacia Geral da União.
Para a secretaria, a área não poderia ser negociada tendo em vista uma "cláusula contratual específica que determinava o objeto do contrato (construção de shopping center, esta autorizada pela União)".
Em nota, o atual ministro defendeu a legalidade do negócio (leia texto à parte).
VENDA
A história começa em 1993, quando o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entregou o terreno de 151 mil metros quadrados no centro de Petrolina à prefeitura, quando Bezerra Coelho exercia o seu primeiro mandato.
Em contrapartida, os novos proprietários deveriam erguer o primeiro shopping da cidade e uma creche, a ser doada à prefeitura.
Após uma licitação, Bezerra Coelho repassou a área para uma empresa particular, a Companhia do Vale Ltda. Um dos sócios da empresa era o cunhado do ministro, Armando Reis Peixoto.
O shopping foi construído e entrou em operação em 1995, mas não foi necessário o uso de todo o terreno. A parte não aproveitada foi então dividida em vários lotes.
Dois deles foram entregues a uma nova empresa aberta por Peixoto, a Piedade, que deixou a Companhia do Vale alegando divergências com os sócios.
Em 2007, a Piedade vendeu um dos lotes para Bezerra Coelho, onde está sendo erguido o hotel. No ato da compra, ambas as partes foram representadas pelo mesmo procurador, um servidor público.
Bezerra Coelho declarou que a área foi comprada por R$ 310 mil, mas corretores ouvidos pela Folha estimaram o valor do imóvel entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão.
A assessoria do ministro diz que o metro quadrado valia R$ 93. Pelos cálculos dos corretores, o preço variava de R$ 500,00 a R$ 750,00.
Informado de que o valor declarado do negócio foi de R$ 310 mil, o corretor de imóveis Emilson Moraes disse: "Sem comentários. A não ser que tenha havido uma doação. Depois do shopping, a região passou a valer ouro".
CONTATO
Em Petrolina, o funcionário da Funcef que acompanha a obra, o engenheiro civil Bruno Dal Moro, disse que o fundo de pensão "investiga tudo" antes de firmar contratos do gênero e que, para os interesses da Funcef, a situação do imóvel é adequada.
Ele contou que a proposta da parceria partiu de Bezerra Coelho, o que depois foi confirmado pelo ministro.
"Ele chegou à Funcef com a proposta de construção desse hotel. Então a Funcef acatou a proposta e ficou com 70% do projeto", afirmou o funcionário.
A obra, avaliada em R$ 11 milhões, deve ser inaugurada nas próximas semanas e integrará a cadeia Ibis.
OUTRO LADO
Fernando Bezerra Coelho informou, por meio de sua assessoria, que a aquisição do terreno foi "negócio travado na esfera privada" e uma operação legítima e legal.
Segundo a assessoria, a venda do terreno em Petrolina (PE) cumpre as condições impostas pela União.´
"Uma vez instalado o shopping, mostrava-se crucial para viabilizá-lo economicamente a instalação de empreendimentos acessórios capazes de lhe prover clientela. Com esse propósito, o empreendedor efetuou o desmembramento de faixas do imóvel não utilizadas pelo shopping", diz a nota.
Mesmo argumento foi dado pelo empresário Armando Reis Peixoto, que vendeu a área. Indagado pela Folha se o shopping já não está "viabilizado" --foi inaugurado em 1995--, Peixoto disse que o hotel atrairá turistas e que o preço do negócio era o praticado no mercado.
Segundo a assessoria de Coelho, a cessão do terreno à empresa Companhia do Vale, na época em que o ministro era o prefeito, foi autorizada pela Câmara.
A assessoria disse ainda que o fato de Coelho não ser mais prefeito quando comprou o terreno "desautoriza qualquer insinuação sobre suposta influência política".
"Em negócio travado na esfera privada, é ilógico pensar que possa ter havido pressão política", afirma.
Segundo a assessoria, "não houve qualquer dano ao patrimônio, na medida em que o município teve a contrapartida esperada: construção de creche e implantação do shopping."
Editoria de Arte/Folhapress

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